Passos Coelho referiu hoje que "os protestos não
são representativos da sociedade portuguesa". Este tipo de afirmações, inscreve-se, do meu ponto
de vista, num regular conjunto de declarações que num contexto de profundas
dificuldades para milhões de portugueses são absolutamente insensatas. Aliás, a
questão da representatividade, assim afirmada, é uma falácia pois, em termos
formais, nas últimas legislativas em 2011, o PSD obteve 38.65 % dos votos expressos e a abstenção foi 41.93 % o
que não lhe retira legitimidade para formar governo.
O que Passos Coelho não pode, de todo, deixar de
considerar é a voz dos que não têm voz, os que efectivamente, passam mal e
poderão passar pior. Os protestos têm sido de um comedimento não comparável com
o que assistimos noutras paragens.
A gente que se vai ouvindo já não é apenas um
grupo pequeno com acesso à comunicação social ou presente nos eventos inscritos
na liturgia dos partidos. A gente que se começa a ouvir não tem “tempo de antena”,
protesta na rua com muito ruído.
Nos últimos dias tem sido ao som do cante
alentejano mas corremos o risco, que o Primeiro-ministro deveria ser o primeiro
a considerar, de passarmos a uma coreografia de protesto em modo de tragédia
grega, como há pouco escrevia.
Como alguém disse, não se pode governar com base
na rua, mas não se pode esquecer a rua.
Sem comentários:
Enviar um comentário