Ao que refere a comunidade portuguesa, estão
aumentar na Suíça os casos de exploração de portugueses, sobretudo na
construção civil e restauração. Relembro que em Julho de 2012 se noticiava que
cerca de 1 000 portugueses por mês procuravam trabalho na Suíça cujas
autoridades afirmaram há dias a sua disponibilidade para vedarem o acesso a
estrangeiros de alguns países incluindo Portugal, com base, alegam, no
clausulado do seu acordo com a União Europeia.
Tem sido notícia recorrente o aumento exponencial
dos fluxos de emigração nos últimos anos a que, para além da gravíssima
situação de desemprego que atravessamos, acrescem várias intervenções de alguns
governantes, do meu ponto de vista lamentáveis, que reflecte a percepção de só
lá por fora se encontrará o que aqui parece inacessível, sobretudo para os mais
novos, a possibilidade de um projecto de vida viável.
No entanto, este movimento contém riscos como a notícia
sobre a Suíça refere. A chegada de milhares de pessoas ou de famílias a países
que desconhecem, com uma língua que desconhecem, muitas vezes envolvidos em
processos não devidamente acautelados em matéria de segurança, condições de
vida e trabalho, potencia situações de enorme de risco e vulnerabilidade.
Há algum tempo, se bem se recordam, o Sindicato
da Construção de Portugal alertava para a existência de "redes
mafiosas" que contratam trabalhadores portugueses para trabalho no
estrangeiro onde são sujeitos a condições de trabalho que configuram
escravatura. Sublinha-se ainda que entre os países referidos no alerta do
sindicato se incluem países como Inglaterra ou Holanda e, como se afirma, a
Suíça, todos países de primeiríssimo mundo.
É também conhecida a recorrente situação de
trabalhadores portugueses explorados como escravos em trabalho agrícola
realizado em Espanha.
A exploração e o tráfico de pessoas, um dos mais
florescentes e rentáveis negócios em termos mundiais, alimenta-se da
vulnerabilidade social, da pobreza e da exclusão o que, como sempre, recoloca a
imperiosa necessidade de repensar modelos de desenvolvimento económico que
promovam, de facto, o combate à pobreza e, caso evidente em Portugal, às
escandalosas assimetrias na distribuição da riqueza. Aliás, hoje é notícia a preocupação que causa a utilização e tráfico de crianças para a mendicidade, um negócio de redes que também operam em Portugal.
As pessoas, muitas pessoas, apenas possuem como
bem, a sua própria pessoa e o mercado aproveita tudo, por isso, compra, vende e
usa as pessoas dando-lhe a utilidade que as circunstâncias, a idade, e as
necessidades de "consumo" exigirem. No caso das crianças, ainda mais vulneráveis, a pobreza e a exclusão potenciam os riscos do tráfico e dos abusos.
O que parece ainda mais inquietante é o manto de
silêncio e negligência, quando não cumplicidade, que frequentemente cai sobre
este drama tornando transparentes as situações de escravatura, não se vêem, não
se querem ver.
Neste universo não conseguimos ouvir o coro dos
escravos, não têm voz.
Sem comentários:
Enviar um comentário