Segundo dados da Procuradoria-Geral Distrital de
Lisboa, em 2012 registaram-se 245 episódios de violência escolar, mais 86 que
em 20111, um aumento de 54 % que, obviamente, solicita atenção.
Os comportamentos agressivos em contexto escolar,
bullying por exemplo, são tão antigos quanto a instituição escolar, sendo certo
que os estudos destes fenómenos são mais recentes. Actualmente, é também mais
objecto de referências fora dos contextos educativos pois o volume e a
gravidade de algumas situações, bem como a divulgação dos estudos e a
fortíssima mediatização também assente na net.
Em vários estudos muito recentes constata-se que
os adolescentes tendem encarar a violência entre si e de uma forma geral, como
normal o que não surpreenderá os mais atentos. A sociedade da informação e os
sistemas de valores actuais banalizaram a violência, não são os adolescentes
que a banalizaram.
Por outro lado, a escola, por ser o espaço onde
os adolescentes passam a maior parte do seu tempo é, naturalmente, o espaço
onde emergem e se tornam visíveis os problemas e inquietações que os alunos
carregam. No entanto, não é possível considerar-se que a escola é mágica e
omnipotente pelo que tudo resolverá. Tudo pode envolver a escola, mas nem tudo
é da exclusiva responsabilidade da escola.
Apesar disso, no que respeita à violência entre
jovens, um fenómeno complexo, existem duas questões que me parecem essenciais e
contributivas para lidar com a situação. Em primeiro lugar é importante criar
nos alunos, ou adultos, vitimizados a convicção de que se podem queixar e
denunciar as situações e encontrar dispositivos de apoio que garantam a
protecção da vítima pois o medo de represálias é o principal motivo da não
apresentação da queixa, sobretudo entre os mais novos. É importante também que
os actores da escola saibam detectar nos alunos sinais que indiciem
vitimização.
Em segundo lugar, é preciso contrariar no limite
do possível a ideia de impunidade, de que não acontece nada ao agressor. As
escolas, tal como a comunidade em geral podem e devem assumir atitudes,
discursos e montar dispositivos que, visivelmente, mostrem um sinal de que não
existe tolerância para determinados comportamentos.
Por outro lado e no que respeita à violência que
envolve professores, os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores
incluindo parte do discurso de responsáveis da tutela, algum do discurso
produzido pelos próprios representantes dos professores e também o discurso que
muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os
professores e a escola, contribuíram para uma desvalorização significativa da
imagem social dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da
comunidade educativa, designadamente de alunos e pais. Esta fragilização, para
além das alterações nos modelos que regulas as interacções sociais, tem, do meu
ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com
alunos e pais, sobretudo porque mina a atribuição de autoridade.
Um professor ganha tanta mais autoridade quanto
mais competente e apoiado se sentir. É também importante reajustar a formação
de professores. As escolas de formação de professores não podem “ensinar” só o
que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos novos professores
e pelos professores em serviço. Problemas "novos" carecem também de
abordagens "novas".
As escolas devem poder usar a sua autonomia para
desenvolver dispositivos de apoio, por exemplo, a existência de outros técnicos
e a utilização regular de dois professores em sala de aula. Não é necessário
aumentar o número de professores, é imprescindível que os recursos sejam
geridos de outra maneira.
Escolas organizadas, com cultura institucional
sólida traduzida na adequação e consistência dos seus projectos educativos e
com lideranças eficazes são mais organizadoras dos comportamentos de quem nelas
habita, como qualquer outra organização.
Os discursos demagógicos e populistas, ainda que bem-intencionados,
não são um bom serviço à minimização destes incidentes que minam a qualidade
cívica da nossa vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário