quinta-feira, 25 de abril de 2013

PÚBLICAS VIRTUDES, VÍCIOS PRIVADOS

À semelhança do que aconteceu em muitos países também a Igreja em Portugal se mostrou inaceitavelmente tolerante com casos comprovados de abusos sexuais de crianças ou adolescentes por parte de membros do clero ou de instituições sob sua tutela. Nos últimos dias foram arquivados, por razões processuais e formais não porque se tenha provado que não existiram abusos, vários casos denunciados à hierarquia da igreja que, no limite, “deslocalizou” os sacerdotes envolvidos mantendo-os em funções e sem qualquer procedimento mais significativo.
Esta atitude da Igreja, comum como disse em vários países, e que já motivou “afastamentos” ao mais alto nível da hierarquia, recorda-me a intervenção de D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, que afirmava em Dezembro do ano passado que a Igreja está "atrasada" e não presta atenção às "transformações do mundo".
Na verdade, D. Manuel Martins tem razão, a reconhecida perda de influência da Igreja, sobretudo nos países mais desenvolvidos, deve-se também ao seu imobilismo, à forma conservadora como não reage às óbvias mudanças sociais, políticas, económicas e culturais sustentando um progressivo afastamento da vida das pessoas, como reconhece D. Manuel Martins e, acrescento eu, a comportamentos como os que tem adoptado face a sucessivas noticias de abusos por parte de membros do clero ou praticados em instituições religiosas marcado por encobrimento, compra do silêncio das vítimas e negligência.
Um dia, talvez a instituição Igreja aceite e perceba a necessidade de mudança no discurso sobre a anti-concepção, o casamento, o celibato dos padres, a abertura do sacerdócio às mulheres, a ostentação visível em parte da hierarquia da igreja, na necessidade de manter transparência e rigor face a comportamentos que para além do sofrimento das vítimas também acabam por penalizar a própria Igreja, etc.
Enquanto assim não for, talvez a simpatia do Papa Francisco não seja suficiente para esbater uma ideia de “públicas virtudes, vícios privados” que não sendo, evidentemente, generalizável, também não pode ser tolerada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa Tarde Professor:

Eu tenho imensa admiração pelo "Bispo Vermelho" que nos anos 80 denunciou os casos de fome que ainda hoje infelizmente existem na Península de Setúbal.

Acho vergonhoso o encobrimento da Igreja Católica dos casos de pedofilia. Não creio contudo que estes casos existam por serem instituições tuteladas pela Igreja.

Pessoalmente eu defendo o celibato dos padres católicos, dado que só assim lhes reconhecemos a autoridade para falar do que não sabem. Se os padres casassem e tivessem filhos seriam sentidos como super-homens. Já me bastam as homilias do padre Marcelo aos Domingos.

É interessante perceber que o psiquismo humano se organiza no interdito, quando este interdito é atacado temos a epidemia de Borderlines que observamos na nossa sociedade.

Creio que o declínio da Igreja Católica se deve muito à emergência do politicamente correcto. Também há uma certa fome de copiar modelos protestantes que não colam com a nossa cultura latina. Apesar de tudo ainda podemos beber o nosso copito sem recrimanações. Fumar é que é pior.

O que seria um Churchill hoje em dia? Um Mitterrand? Um Adenauer?

O equilíbrio precário da Igreja Católica está entre não perder a sua identidante e modernizar-se, sem entrar na onda evangélica.

Em suma: Desde que o Estado seja laico vá à missa quem quer.

Abraço
António Caroço

P.S. - Sabemos que em comunidades religiosas o psicólogo não consegue fazer nada se hostilizar o padre, assim como não se trabalha na escola sem os professores.