Para fugir à inevitável agenda da crise umas
notas sobre uma situação quase sempre apenas abordada, tal como eu o estou a
fazer, em função de ocorrências trágicas.
O pai de um jovem de 23 anos que perdeu a vida na
Ponte do Infante no Porto, sem que com segurança se tenha determinado se por
queda, suicídio ou acidente, tem um processo em tribunal no sentido de obrigar as
entidades responsáveis a aumentar os níveis de segurança deste tipo de
equipamentos.
Para além das especificidades desta situação e de
considerar que esta cruzada do pai pode fazer parte de um natural processo de
luto face à tragédia devastadora por que passou e está a passar, vale a pena
considerar alguns outros aspectos.
Os comportamentos auto-destrutivos nos mais
jovens que podem ter um desfecho fatal são algo de inquietante e a justificar a
maior das atenções.
Este quadro é um indicador do mal-estar que
muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar
suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de
sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por
exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de
sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de
comportamentos autodestrutivos. Começa também a emergir como causa deste mal-estar
a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lidar com situações
de insucesso escolar. Estas dificuldades são frequentemente potenciadas pela
pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes se instala.
Há ainda que considerar a dificuldade em jovens
adultos de estabelecer projectos de vida autónomos e sustentados sendo que
muitas deles vivem uma dramática situação de desemprego, dependência familiar e
ausência de perspectivas.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil
dizer qualquer coisa mas é necessário insistir. Muitas crianças e adolescentes
evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes não damos
atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa parte do seu tempo.
De facto e na maior parte dos casos, designadamente, nas tentativas de
suicídio, pode ser possível perceber sinais e comportamentos indiciadores de
mal-estar. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados. Pode ainda acontecer que esse mal-estar fique tão grande que não existirão grades suficientemente altas para o poder conter.
O resultado pode ser trágico.
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