No Público de hoje surge um trabalho interessante
sobre o Agrupamento de escolas Queluz-Belas o segundo maior do país com 4350
alunos de 12 escolas. Algumas notas retiradas da peça. O Director diz não ver
problema nos agrupamentos, “o problema é serem tantos (alunos)”. É também
referido o impacto fortíssimo da redução de professores, uma das escolas em
dois anos passou de 50 professores contratados para dez com situações de
professores que têm de leccionar em várias escolas embora, caso dos
mega-agrupamentos urbanos as distâncias não sejam tão grandes quanto os
inconvenientes óbvios. Uma professora do 2º ciclo fala do problema do número de
alunos por turma, 26 alunos, afirmando que “fiquei sem tempo para ajudar os
alunos que mostram mais dificuldades”, acrescentando não compreender como pode
o MEC obrigar que alunos com défices cognitivos realizem exames nacionais, “só
lhes vai provocar sofrimento”. Os alunos do 1º ciclo vão realizar exames em
escolas que não as suas vigiados por professores do secundário(!) pois os do 1º
ciclo não podem realizar este trabalho.
De resto … tudo bem.
Há dias o MEC defendia que os novos agrupamentos
“têm uma dimensão equilibrada e racional”. Este processo leva, como referido, a
que professores leccionem em diferentes escolas, a dezenas de quilómetros de
distância e em turmas superlotadas por via da concentração dos alunos e da decisão
de aumentar o efectivo de turma. O MEC afirmou que este processo permite
“reforçar o projecto educativo e a qualidade pedagógica das escolas, através da
articulação dos diversos níveis de ensino”. Evidentemente.
Seria ridículo se não fosse trágico.
Um documento do CNE refere o impacto negativo
deste processo na desejada autonomia das escolas. É referido, por exemplo, o
“reforço da centralização burocrática dentro dos agrupamentos, o aumento do
fosso entre quem decide e os problemas concretos a reclamar decisão” e a
“sobrevalorização da gestão administrativa face à gestão autónoma das vertentes
pedagógicas”.
Tal constatação não é estranha e vem ao encontro
das muitas reservas que este caminho tem vindo a merecer. Desde sempre tenho
defendido que apesar de ser necessária uma reorganização da rede escolar,
porque escolas de reduzidíssima dimensão, para além dos custos, não cumprem a
sua função social com qualidade, teria absolutamente desejável que se não
enveredasse pela criação de mega-escolas ou mega-agrupamentos.
De há muito que se sabe que entre os factores
mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina se
podem identificar o efectivo de escola e a qualidade e consistência da sua
liderança. Não é certamente por acaso ou por desperdício de recursos, que os
melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e, por exemplo,
mais recentemente o Reino Unido e os Estados Unidos na luta pela requalificação
da sua educação, optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a
dimensão média de 500 alunos.
Por outro lado, considerando a desejável e
progressiva autonomia das escolas, a qualidade das lideranças emerge cada vez
mais como uma variável com peso muito significativo. Estruturar
mega-agrupamentos com lideranças diluídas e dispersas, o agrupamento de
Queluz-Belas tem 12 estabelecimentos, não será, certamente, uma boa forma de
promover essa qualidade e, por exemplo, a consistência e coesão de práticas e
equipas de docentes, técnicos e funcionários não se percebendo como é que
"reforça o projecto educativo e a qualidade pedagógicas das escolas"
na delirante visão do MEC. Como o CNE referiu, este cenário acaba por promover
o reforço da centralização burocrática e contraria a progressão da autonomia,
sempre presente na retórica mas de difícil promoção.
É fundamental que a comunidade tenha consciência
deste universo de modo e os riscos inerentes à construção de autênticos barris
de pólvora e de contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e
qualidade apesar do esforço de professores, alunos, pais e funcionários.
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