Há algum tempo, lá no Meu Alentejo, depois de um
dia de lida e como é costume fiquei uns minutos nas lérias com o Mestre Zé
Marrafa.
À conversa veio a vida em sítios diferentes, caso
dele que vive na vila e do meu que vivo na cidade grande. Contou que às vezes vai
visitar a filha a Évora mas que, apesar de gostar da família, umas horas na cidade é tempo demais.
Como ele diz, “é bem verdade, galinha do campo
não quer capoeira”. Ele não se imagina a viver assim numa terra grande, mora na
vila, vem ao monte, tem sempre alguma coisa que fazer, sobretudo plantar alguma
coisa na horta que é o que mais gosta. Achei muita graça à descrição do Mestre
Marrafa sobre o seu incómodo, as suas fezes, como se diz no Alentejo, com a
cidade grande, “sei lá, o corpo não se encontra”, “parece que estou perdido”,
“parece assim uma prisão” e outras considerações que não fixei. Conhecendo o Mestre
Marrafa, dá para entender este discurso. Os olhos pequeninos brilham quando
fala do que vai fazer, dos criadores, das enxertias, dos bogangos, dos frades,
da necessidade de fabricar a terra para o “çabolo”, do pimentão e dos
"pipinos", dos rábanos enormes que lá temos, e das “alfaças”, de uma
busca por espargos ou por carrasquinhas e catacuzes que com feijão compõem um
prato extraordinário, das couves que apesar de dividirmos as folhas com as
codornizes sabem bem mas bem, da desmoita dos pés-de-burro das oliveiras e da
sua limpeza que nos garante lenha para o inverno para além da azeitona e do
azeite, etc., etc.
Às vezes, penso como sou um privilegiado com um
campo, o Meu Alentejo, para ir quando saio da cidade grande. Pena é que muita
gente, sobretudo os miúdos, já não saiba o que é “o campo”, e, por isso, não
podem, por vezes não querem e outras vezes não sabem, sair da capoeira em que
vivem.
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