Sinais dos tempos de chumbo que vivemos.
Os espaços simbólicos do poder político em Portugal, contrariamente ao habitual, condicionam ou impedem a presença de cidadãos no dia 25 de Abril.
O Palácio de S. Bento com a interessante e sólida desculpa de que tem os jardins em manutenção não permite a entrada de visitantes.
O Palácio de Belém que em anos anteriores tem também recebido cidadãos a 25 de Abril não o permite este ano.
A Assembleia da República, o lugar mais representativo de um regime democrático, numa medida de extraordinário alcance, convidou escolas do ensino básico a enviar as criancinhas que encherão as galerias o que inviabiliza a presença de outros cidadãos. Não é possível, gostava de acreditar mas não sou capaz de o fazer, entender esta medida sem pensar que ela na verdade se destina a prevenir algum risco de protestos. Assim, numa encenação norte-coreana que me embaraça prenche-se as galerias com alunos novinhos que certamente agirarão as bandeiras e comporão um ar comemorativo de algo que desta maneira, não irão certamente entender.
Compreendo que possa não ser simpático para o poder o risco de manifestações de desagrado mas, este sim, é um preço que em democracia se tem de pagar.
Um poder político com medo dos cidadãos e das suas manifestações, é um poder sem arquitectura democrática, tenderá ao autoritarismo, à fuga, ao isolamento, tudo o que uma democracia em funcionamento, ainda que a viver tempos difíceis, não deve alimentar.
Estas decisões, conhecidas a 24 de Abril, relembram justamente o que o 25 de Abril ajudou a modificar. É triste.
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