Alguns moradores da Av. Almirante Reis estão a
instalar grades nas arcadas dos edifícios para evitar que as pessoas sem abrigo
utilizem os espaços das arcadas. A medida é justificada com questões de segurança
e acessibilidade aos edifícios e ao que parece tem aumentado o número de
pessoas nessa condição nesta zona sendo que algumas terão vindo de áreas da
cidade de onde foram expulsas. Por outro lado, alguns moradores e a Junta de
Freguesia entendem que a medida não é uma solução pelo que se desejam outro
tipo de iniciativas ou políticas.
A questão da pobreza é uma matéria que se presta
a demagogia e discursos populistas e que dificilmente se evitam. Isto quer
dizer que não me parece positivo uma apressada condenação das pessoas que
colocam as grades, provavelmente, elas próprias também não concordam com a
medida mas convivem com um realidade que as assusta e que não imaginam
alterar-se.
O mundo assimétrico, promotor de exclusão,
pobreza e guetização social, cai-nos em cima produzindo situações, muitas situações de pessoas, sem
abrigo, que na verdade, não têm nada, aguentam tudo e só são notícia neste tipo
acontecimentos, quando chegam as vagas de frio ou quando aparecem gratos e
contentes naqueles jantares oferecidos no Natal que sempre compõem indecorosos
espectáculos mediáticos. É certo que as pessoas sem abrigo são pessoas com capacidades
de adaptação e para preparados para suportar limites que, de acordo com Fernando
Ulrich, as tornam um paradigma de resistência para todos os cidadãos.
Continuam os tempos de chumbo, os tempos da
indignidade.
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