Era uma vez um homem chamado Perguntador. Desde
muito cedo revelou uma estranha forma de falar. Na maioria das vezes, apenas
fazia perguntas, raramente afirmava, e a qualquer resposta continuava a
perguntar.
As pessoas admiravam-se e ficavam embaraçadas com
tal estilo. Algumas, mais generosas, achavam que o Perguntador era um chato
curioso, outras que tinha uma espécie de tique no discurso, quase só recorria a
perguntas, outras ainda, professores, por exemplo, achavam que o Perguntador os
queria desafiar e não reagiam muito bem.
Claro que como o comportamento gera
comportamento, quanto mais as pessoas reagiam, mais perguntas o Perguntador
colocava, o que ainda mais exasperava as pessoas.
Quando mais crescido, contrariando a ideia de que
a idade nos muda, o Perguntador mais perguntava. As suas dúvidas, inquietações,
curiosidade, vontade de entender as pessoas e a vida, levavam-no a colocar cada
vez mais perguntas.
Curiosamente, não mudando o Perguntador, mudaram
as pessoas, calavam-se, não prestavam atenção e, por fim, ignoravam
completamente o Perguntador. Como sabem, as pessoas não gostam lá muito de
perguntas.
Nem assim o Perguntador mudou. Começou a fazer
perguntas para dentro, tornou-se escritor de poemas. Continua sem respostas.
Mas não desistiu de perguntar, o Perguntador.
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