Num tempo marcado pela existência
de uma infinidade de dispositivos facilitadores de comunicação parece que a
comunicação, estranhamente está em perda.
Atentando ao contexto político
português há uns meses atrás a grande forma de comunicação era a SMS, uma forma
discreta e rápida de contactar. Nessa altura toda a gente recebia SMS que
negava ter recebido e enviava SMS que negava ter enviado.
Paralelamente continua em alta o
recado. São múltiplos os recados trocados entre os actores que contracenam na
vida política, toda gente quando fala está a enviar um recado a outra gente
que, por sua vez, responde com recados dirigidos, à mesma ou outra gente numa
contínua troca de recados.
Nos últimos dias assistimos ao
ressuscitar da velhinha carta. A rapaziada desatou a escrever cartas, Passos
escreve à troika, Seguro escreve à troika, Passos escreve a Seguro, etc. numa
estimulante quanto improfícua azáfama.
No entanto e na verdade, de uma
forma geral, esta gente não comunica com os outros, comunica entre si, para os
seus, para a sua tribo e fala dos outros, não com os outros. Tal estranheza
acontece mesmo quando aparentemente se juntam com os outros ... para falar. De
facto não o fazem. As tribos, maiores ou menores, acantonam-se em torno de
sindicatos de interesses que quase sempre são conflituais e assim continuam.
Instala-se uma cacofonia em diferente suportes e que evidentemente mostra uma
pobreza extrema na comunicação, na troca, na construção comum assente na
relação, na comunicação, justamente.
Às vezes, esta gente faz-me
lembrar os miúdos que quando são pequenos e ainda muito centrados em si não
brincam uns com os outros, brincam ao lado uns dos outros.
Boa parte destas lideranças
funcionam nesse registo, não falam, comunicam, com os outros, falam, comunicam
para si, ao lado dos outros, produzindo um ruído insuportável e improdutivo.
Só que esta gente é mais
crescida, ou não.
Miúdos, desculpem lá a comparação,
foi sem ofensa, como se dizia quando eu era .. miúdo.
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