quarta-feira, 17 de abril de 2013

FALAR DOS OUTROS OU FALAR COM OS OUTROS

A comunicação entre as pessoas constitui provavelmente a ferramenta mais potente de construção de valores, ideias, ... de vida.
Num tempo marcado pela existência de uma infinidade de dispositivos facilitadores de comunicação parece que a comunicação, estranhamente está em perda.
Atentando ao contexto político português há uns meses atrás a grande forma de comunicação era a SMS, uma forma discreta e rápida de contactar. Nessa altura toda a gente recebia SMS que negava ter recebido e enviava SMS que negava ter enviado.
Paralelamente continua em alta o recado. São múltiplos os recados trocados entre os actores que contracenam na vida política, toda gente quando fala está a enviar um recado a outra gente que, por sua vez, responde com recados dirigidos, à mesma ou outra gente numa contínua troca de recados.
Nos últimos dias assistimos ao ressuscitar da velhinha carta. A rapaziada desatou a escrever cartas, Passos escreve à troika, Seguro escreve à troika, Passos escreve a Seguro, etc. numa estimulante quanto improfícua azáfama.
No entanto e na verdade, de uma forma geral, esta gente não comunica com os outros, comunica entre si, para os seus, para a sua tribo e fala dos outros, não com os outros. Tal estranheza acontece mesmo quando aparentemente se juntam com os outros ... para falar. De facto não o fazem. As tribos, maiores ou menores, acantonam-se em torno de sindicatos de interesses que quase sempre são conflituais e assim continuam. Instala-se uma cacofonia em diferente suportes e que evidentemente mostra uma pobreza extrema na comunicação, na troca, na construção comum assente na relação, na comunicação, justamente.
Às vezes, esta gente faz-me lembrar os miúdos que quando são pequenos e ainda muito centrados em si não brincam uns com os outros, brincam ao lado uns dos outros.
Boa parte destas lideranças funcionam nesse registo, não falam, comunicam, com os outros, falam, comunicam para si, ao lado dos outros, produzindo um ruído insuportável e improdutivo.
Só que esta gente é mais crescida, ou não.
Miúdos, desculpem lá a comparação, foi sem ofensa, como se dizia quando eu era .. miúdo.

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