Segundo dados da Direcção-Geral de Reinserção e
Serviços Prisionais, 24% dos jovens de alto risco de envolvimento em
comportamentos de delinquência e a quem foram aplicadas medidas tutelares
incluindo o internamento em Centros Educativos reincidiram nos primeiros 12
meses e ao fim de 26 meses a taxa de reincidência sobe para 48.6%.
Julgo importante ainda recordar dados divulgados
em 2012 que sublinharam o aumento da delinquência urbana, sendo que 86% dos
incidentes registados são protagonizados por gente jovem, dos 16 aos 35 anos.
Sempre que estas matérias são discutidas, os
especialistas acentuam a importância da prevenção e da integração comunitária como
eixos centrais na resposta a este problema sério das sociedades actuais.
Parece ser cada vez mais consensual que mobilizar
quase que exclusivamente dispositivos de punição, designadamente a prisão,
parece insuficiente para travar este problema e, sobretudo, inflectir as
trajectórias de marginalização de muitos dos envolvidos mais novos em episódios
de delinquência.
No entanto a discussão sobre estas matérias é
inquinada por discursos e posições frequentemente de natureza demagógica e
populista alimentados por narrativas sobre a insegurança e delinquência
percebida, alimentadora de teses securitárias.
Em Portugal existem altíssimos níveis de prisão,
é conhecida a situação de sobrelotação nos estabelecimentos prisionais. São
também constantes e públicos os apelos ao aumento de penas e da prisão de mais
gente, provavelmente, devido a uma devastadora percepção de impunidade e
insegurança que tem vindo a instalar-se na sociedade portuguesa. É ainda
frequente reclamar o abaixamento da idade susceptível de prisão que actualmente
se situa dos 14 aos 16 anos, internamento fechado em Centro Educativo e a
prisão comum a partir dos 16, como subscreve, por exemplo, o CDS-PP.
A questão central, do meu ponto de vista, é que,
sobretudo no caso de gente mais nova, a prisão não pode ser a única solução, os
dados sobre a elevadíssima taxa de reincidência mostram isso mesmo.
Os estudos sobre a reincidência em diferentes
idades, sugerem que as medidas de restrição de liberdade quando não
acompanhadas por outro tipo de intervenção não a minimizam significativamente.
Também se reconhece que frequentemente o universo prisional é uma escola e um
factor de risco de agravamento de comportamentos de delinquência.
Esta altíssima taxa de reincidência, mostra o
enorme risco de falência do Projecto Educativo obrigatoriamente definido para
todos os adolescentes internados. Este Projecto Educativo assenta em dois eixos
fundamentais, formação pessoal e formação escolar e profissional. É neste
âmbito que o trabalho tem que ser optimizado. É imprescindível que os meios
humanos e os recursos materiais sejam suficientes para que se minimize até ao
possível os riscos de reincidência. Ao que é conhecido, um dos jovens agora
detidos já tem antecedentes criminais. Mesmo entre a população mais jovem, com
mais de 16 anos e, portanto, a cumprir penas em estabelecimentos prisionais
para adultos, a taxa de reincidência é enorme e a prisão, sabe-se, funciona
frequentemente como escola para certificação e aquisição de competências.
Fica certamente mais caro lidar com a
delinquência provavelmente praticada por estes jovens reincidentes em adultos
do que investir na qualidade dos Centros Educativos para que sejam, de facto,
educativos. É neste contexto que, do meu ponto de vista se deve colocar a
análise da proposta agora elaborada, ou seja, é imprescindível um
redimensionamento da rede de Centros Educativos e um forte investimento nos
recursos técnicos de que dispõem, nos meios, espaços e equipamentos. Só assim
poderão cumprir a sua função, proporcionar a jovens em privação de liberdade a
construção de um Projecto de vida, com qualificação escolar e profissional,
formação pessoal e uma ideia de futuro que minimize o risco de reincidência.
Apesar de, repito, a punição e a detenção
constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade instalada,
é minha forte convicção de que só punir e prender não basta.
Assim, sabendo que prevenção e programas
comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa
prevenir e os custos posteriores da delinquência continuada e da insegurança.
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