segunda-feira, 1 de abril de 2013

ESCOLA PÚBLICA, UM SISTEMA EM RISCO DE IMPLOSÃO

A propósito do texto interessante de Paulo Guinote no Público sobre o que ele chama "O grande negócio da educação", no fundo, a questão da coexistência e em que termos do sistema público de educação e o sub-sistema privado, algumas notas.
Entre nós é frequente, e do meu ponto de vista desajustado, dicotomizar de forma excessiva a questão educativa entre privado vs público. Na verdade, entendo a existência de um subsistema educativo de ensino privado como absolutamente necessária para, por um lado permitir alguma liberdade de escolha, ainda que condicionada, por parte das famílias e, por outro lado, como forma de pressão sobre a qualidade do ensino público.
Por outro lado, o texto de Guinote refere isso mesmo, os estudos conhecidos estão longe de ser conclusivos sobre o entendimento de que a liberdade de educação, nos termos em que mais habitualmente é colocada, seja a Solução para as fragilidades da educação.
Acontece ainda que, como é bem conhecido, muitas instituições de ensino privado não receberão nunca alguns alunos independentemente dos pais terem no fim de cada mês apoio económico estatal para a sua frequência ou os colégios serem financiados relativamente a esses alunos. Não é uma questão económica, é uma questão de defender a instituição de situações de risco que lhe comprometam a imagem de excelência ou a posição nos rankings, sejam os dos resultados escolares sejam os do "capital social" que detêm. Acresce que também se sabe que existem diferentes estabelecimentos de ensino privado de onde, com baixíssima tolerância, alunos com algum insucesso e ou problemas do comportamento são "convidados" a sair para que se não comprometa a imagem e o estatuto da escola.
Reafirmando a necessidade de existência de um subsistema privado, insisto de há muito, que a melhor forma de proteger a liberdade de educação, é uma fortíssima cultura de qualidade, rigor e exigência na escola pública e uma acção social escolar eficaz e oportuna.
No entanto, a questão, também colocada por Paulo Guinote, prende-se com a agenda do MEC nesta matéria, ou seja, parece clara a existência de um conjunto de interesses que por dentro do MEC e em alguns sectores se vão organizando no sentido de colocar em causa a escola pública, a sua qualidade e sustentabilidade, de forma a justificar uma privatização progressiva ao abrigo de uma genuinamente interessante de "liberdade de educação" mas que, nas mais das vezes, encobre interesses outros nem sempre transparentes.
Os desenvolvimentos recentes e o futuro imediato da PEC - Política Educativa em Curso, não auguram grande optimismo na defesa da escola pública e da sua qualidade que parece em implosão controlada. Como se sabe, mesmos os processos de implosão controlada têm riscos, neste processo temo que os interesses de muitos miúdos, famílias e a qualidade do trabalho dos professores saiam muito maltratados.
Como diz o povo não se pode agradar a todos.

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