“…
Confesso que tenho alguma dificuldade em perceber onde e como vão
os professores do 1º ciclo encontrar “soluções criativas” para lidar com os
desafios da educação para o 2020 identificadas por Diogo Simões Pereira no seu artigo no Público.
Apesar dele afirmar que o MEC já “incorporou” a “relevância
estratégica” das escolas do 1º ciclo, não vejo muito bem como é que tal relevância será operacionalizada com turmas
até 26 alunos, com falta de recursos e apoios, com as metas curriculares estabelecidas, 72 objectivos e 323
descritores para Matemática e de 177 objectivos e 703 descritores para Português
que transformam o ensino se transforme na gestão de uma espécie de "check
list" das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as
diferenças, óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem o que
culminará, antecipa-se, com a realização de exames todos os anos.
Cito Marçal Grilo numa entrevista recente, "Mas
lembro que na escola há três áreas fundamentais: os conhecimentos de base, os
comportamentos e atitudes e a área dos valores. Nos valores, há imenso a fazer,
se há algo que o país e o mundo perderam, foi a ética, parece varrida do
comportamento das pessoas. Em Portugal, há hoje uma ideia de que o que é legal
é ético, quando há coisas que sendo legais não são éticas! Não são legítimas,
ponto! Não se devem fazer, mesmo sendo legais. Longe de mim desprezar os
conhecimentos de base, já falei do grande orgulho na minha formação de
engenheiro, com Matemática, Física, Química, estruturas, resistência dos
materiais, etc. Sucede porém que a escola não é só isto. E é aqui que eu
penso que o ministro não tem sabido mobilizar os professores, os alunos e os
pais para a ideia de que há mais vida para além do que se estuda nos livros
para responder nos exames e satisfazer os testes internacionais."
Trata-se, na verdade, de uma outra visão da educação e da
escola que Nuno Crato e seguidores não irão compreender, nunca.
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