A propósito da iniciativa hoje promovida por um grupo
significativo de Associações de Estudantes do Ensino Básico e Secundário
realizando em diferentes cidades manifestações em defesa da educação e ensino
público de qualidade, algumas notas que começam com a interrogação em título,
"Educação e Ensino Público, lembram-se?"
O sentido da resposta parece-me claro. De forma determinada
o Ministro Nuno Crato vai cumprindo a sua agenda cada vez mais explícita, o
financiamento do ensino privado à custa da degradação e desinvestimento do
ensino público sob o princípio da liberdade de escolha, ou seja, um forte
apoio ao negócio da educação.
Neste sentido, como já afirmei, compreende-se que para o OGE
de 2014 para a Educação as verbas destinadas a financiar sob diferentes formas
o ensino privado sejam reforçadas. Para além da inacreditável possibilidade de
estabelecer contratos de associação ainda que exista ensino público com
oferta educativa disponível na mesma área, teremos o cheque-ensino já com uma
dotação de 19.4 milhões de euros e a desenvolver em termos experimentais. Em
modo MEC, período experimental quer dizer pré-generalização como se verificou
com o ensino vocacional que antes da avaliação entrou em generalização.
A experiência do que têm sido tais práticas de liberalização
noutra paragens e o conhecimento dos territórios educativos portugueses sugerem
que na verdade percorremos um caminho de privatização da educação
transformando-a num serviço que as famílias compram de acordo com as suas
possibilidades económicas para os verdadeiros destinatários desse serviço, os
seus filhos.
Aliás, parece-me claro que a cultura mais generalizada
entende os estabelecimentos de ensino privado como exclusivos e muitos deles
são profundamente selectivos na população que acolhem, o que leva, justamente,
muitos pais a escolher "comprar", por assim dizer, essa
exclusividade, que só por existir já é um negócio, um bom negócio.
Por outro lado, a PEC – Política Educativa em Curso tem sido
e será basicamente um exercício contabilístico, ou seja, muitas mudanças promovidas parecem
ter como princípio fundador a contabilidade, ou seja, o corte do investimento, e não a qualidade do trabalho de
alunos e professores. Na verdade, temos tido menos escolas, menos professores,
mais alunos por turma, menos apoios escolares e sociais aos miúdos e famílias,
menos pessoal técnico e auxiliar, menos direcções, menos qualquer coisa que dê
para poupar dinheiro. No fundo, menos qualidade na escola pública.
A maioria das famílias irá, evidentemente, manter os seus
filhos nas escolas públicas que sofrendo forte desinvestimento terão menos
recursos, apoios e autonomia real e em que os professores serão obrigados a
funcionar num registo de "contents delivery" a turmas enormes de
alunos que através de sucessivos exames passarão por uma espécie de
"darwinismo educativo", sobrevivendo os clientes mais fortes, sendo os
mais fracos enviados para o "trabalho manual".
Sopram ventos adversos, são os mercados a funcionar, dizem,
também na educação. Os clientes mais "favorecidos", para utilizar um
eufemismo frequente, comprarão bons serviços educativos e os menos
"favorecidos" ... assim continuarão.
É o destino. Talvez as manifestações dos estudantes possam ajudar a contrariá-lo.
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