Ciclicamente, só para nos
arreliar e dar cabo da nossa auto-estima, referem-se à nossa pouca apetência
pelo desporto e actividade física. Dados hoje divulgados com origem no
Eurobarómetro, mostram que os portugueses são dos europeus menos dados às
práticas desportivas, contrariamente aos escandinavos. De facto, 64 % dos inquiridos
referem nunca praticar uma actividade desportiva.
Recordo um estudo de há algum
tempo sobre os tempos livres dos portugueses mostrava que 96% dos portugueses
tem como principal actividade ver TV na qual gastam 37% do tempo. Ficámos ainda
a saber que 40% gasta 8% do tempo a ver filmes (DVDs). Era ainda referido por
22% o uso do seu tempo livre para navegar na Net e 9% de volta dos livros. O
estudo referia também que somos dos que menos recorremos a actividades de ar
livre. Alguns comentários.
Em primeiro lugar, os tempos não
me parecem nada livres, ou seja, os portugueses estão completamente “agarrados”
e tornaram-se teledependentes. Como sabem, os comportamentos aditivos
retiram-nos liberdade pelo que deixemos de chamar livres ao tempo que dedicamos
compulsivamente ao ecrã. Por outro lado, parece-me que a fatal atracção pode
ser explicada pela qualidade da programação, sobretudo dos canais abertos e
generalistas, novelas, novelas e, no meio, pérolas como o Preço Certo ou os
programas de discussão sobre futebol. E também temos a Dra. Fátima Campos
Ferreira a arbitrar intermináveis e estéreis discussões. No cabo temos
overdoses de futebol, actividade cultural de que somos especiais consumidores e
até faz menos mal, parece, que ver telejornais. Os dados referentes à leitura
estarão provavelmente ligados à atitude séria que temos perante a vida, isto é,
se estamos em tempos livres, achamos, que é para descansar e ter que estar a
pensar no que se lê, bolas, dá cabo do descanso. O facto de não recorrermos a
actividades de tempo livre deve-se certamente ao clima adverso e à excelência e
conforto das nossas casas. Gostava de ver as pessoas que andam sempre em
actividades de ar livre, como as do norte da Europa, a fazerem essas
actividades com o nosso clima. Claro que se também tivessem casas confortáveis
como as nossas, não quereriam sair delas e estariam de pijama, num sofá, em
frente à TV.
Em termos de actividade
desportiva propriamente dita, julgo que é de realçar o hábito bem enraizado
entre nós de passear de fato de treino, sobretudo ao fim de semana, a caminho da bica, pelos centros
comerciais ou ainda assistir a um evento desportivo na condição tão
interessante de "desportista de bancada" onde até se pode participar
num concurso de arremesso no âmbito das claques clubistas. É um começo.
Convém
ainda não esquecer a quantidade vezes que nos referimos no quotidiano, ao que
"fazemos por desporto".
No fundo, somos mesmo um país de
desportistas.
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