Dados hoje divulgados mostram que na UE cerca de 48% dos
jovens até aos 30 anos ainda vive com os pais, sendo que em Portugal a
percentagem é de 55%. Tal como na Irlanda, baixou ligeiramente face a dados
anteriores, provavelmente devido a emigração de muitos jovens.
Em linha com outros resultados, nos países nórdicos verificam-se,
globalmente, as taxas mais baixas.
Para além das questões de natureza cultural que importa
considerar, as actuais circunstâncias de vida dos jovens sustentam este cenário
que, provavelmente, se agravará. Algumas notas sobre este universo.
Na verdade e em termos gerais os mais jovens estão numa
situação particularmente difícil. Em Portugal existirão mais 300 000 jovens
entre os 15 e 29 anos que não estudam, não trabalham e nem estão a receber
formação, a designada situação “nem, nem”.
Este cenário não é mais grave porque 100 000 jovens,
sobretudo qualificados, estão a sair do país, emigrando para outras paragens e
tem um custo brutal, cerca de 2 700 milhões de euros, 1,57 % do PIB. A
emigração parece assim constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um
futuro onde caiba um projecto de vida positivo e viável como tem vindo a
verificar-se.
Acresce que de acordo com um Relatório da Organização
Internacional do Trabalho em 2011, 56 % dos jovens portugueses com trabalho têm
contratos a prazo. Há algum tempo uma informação do Banco de Portugal referia
que em cada dez empregos novos para jovens, nove são precários. Por outro lado,
a taxa de desemprego entre os mais novos ronda os 36 %, a terceira taxa mais
alta da UE.
Segundo um estudo da CGTP, 51% dos jovens com menos de 25
anos ganha menos de 500 € e 24,5% dos jovens entre os 25 e os 35 recebe também
menos de 500 €. Este cenário evidencia a enorme precariedade do trabalho e
baixa qualificação do mesmo.
A precariedade nas relações laborais quase duplicou na
última década. Portugal é o segundo país da Europa, a seguir à Polónia, com
maior nível de contratos a prazo. Por outro lado, as políticas de emprego em
curso incluem maior flexibilização das relações laborais o que, naturalmente, é
coerente com os ventos neo-liberais e o endeusamento do mercado que tudo
permite, incluindo roubar a dignidade às pessoas e promover exclusão.
Deste cenário e dos números do desemprego, resulta que os
mais novos à entrada no mercado de trabalho são os mais vulneráveis ao
desemprego e à precariedade quando, apesar das dificuldades, acedem a algum
emprego.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem,
obviamente, sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a
bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os dados hoje
conhecidos mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no
acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de
projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam
enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito provavelmente,
conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito significativo mas menos tangível
desta precariedade no emprego, é a promoção de uma dimensão psicológica de
precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os
discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode
instalar-se, está a instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir
da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que
recompense.
Este problema que não é um exclusivo português, longe disso,
exige uma visão e um conjunto de políticas que não se vislumbram e cuja
ausência compromete a construção sustentável do futuro.
Podemos estar perante a tragédia das gerações perdidas de
que há algum tempo se falava.
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