Dados do INE hoje conhecidos, vêm atestar que o Programa Empobrecimento a Tempo Inteiro, empenhadamente posto em prática pelo Governo através das chamadas Actividades de Empobrecimento Familiar, está a conhecer um assinalável sucesso.
Em 2012, a taxa de risco de
pobreza em Portugal aumentou para 18,7%, derca de dois milhões de portugueses,
a taxa mais elevada desde 2005 sendo que nos dados relativos à privação material,
dados de 2013, 25,5% da população residente em Portugal vive em privação
material, mais 3,7% que em 2012, 10.9%.
Atentando nestes e noutros
indicadores, parece evidente o sucesso do Programa que nos leva ao salvífico
empobrecimento pelo que se aguarda a sua continuidade.
Na verdade, depois de décadas em
que muitos portugueses não tiveram o privilégio de beneficiar das virtudes do
estado de pobreza, o Programa de Empobrecimento a Tempo Inteiro tem vindo a
devolver aos portugueses a felicidade do empobrecimento e a sua salvífica
condição.
Com uma invejável determinação e
coragem o Governo tem conseguido transformar milhões de portugueses em pobres,
há quem lhes chame, os novos pobres, pelo que o nosso índice de felicidade tem
vindo a subir sustentada e estruturalmente.
É verdade que existe uma pequena
minoria que tem sido inaceitavelmente discriminada, não tendo beneficiado das
Actividades de Empobrecimento Familiar, antes pelo contrário, alguns estão
mesmo mais ricos. Não é justo que fiquem privados do usufruto da pobreza.
Alguns ingratos, irrealistas, mal
agradecidos, ignorantes ou mesmo mal intencionados entendem que que não eram
necessárias tantas Actividades de Empobrecimento Familiar. Não passam de vozes
de burro que, evidentemente, não chegam ao céu. Como o Primeiro-ministro
afirmou há dias as pessoas "simples" entendem o seu empobrecimento.
Claro, é o seu destino.
Como se sabe, o céu está guardado
para os bem aventurados pobres.
Na verdade e mais a sério, é
difícil de entender a persistência numa estratégia de empobrecimento como
salvação para as dificuldades num país em que perto de dois milhões de pessoas,
estão em risco de pobreza. Este é o
resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que custar", no
cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos objectivos de uma
política "over troika", atingindo claramente o limite do suportável e
afectando gravemente as condições de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas,
não de políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das
pessoas. E estamos no “bom caminho”?
Com este terramoto social e
económico ainda se insiste no discurso do “temos que empobrecer”, é esse o “bom
caminho”. Isto indigna até à raiva, nós já estamos pobres, nós não precisamos
de ficar mais pobres.
O que precisamos é de coragem e
visão sem subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir
modelos económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados
ou a grupos minoritários de interesses.
Ter como preocupação quase
exclusiva o abaixamento dos rendimentos familiares, incluindo pensões
reformas, o abaixamento dos custos do trabalho através da sua proletarização e
precariedade, não parece ser a forma mais eficaz de combater o desemprego,
promover desenvolvimento e criação de riqueza.
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