De facto e como e como é referido na peça, a gravidade e a
regularidade destes episódios exigem uma atenção e reflexão contínuas, sabe-se
que a ocorrência de situações de bullying é bem superior ao número de casos que
são relatados. Uma das características do fenómeno, nas suas diferentes formas,
incluindo o emergente cyberbullying, é justamente o medo e a ameaça de
represálias a vítimas e assistentes que, evidentemente, inibem a queixa pelo
que ainda mais se justifica a atenção proactiva e preventiva de adultos, pais,
professores ou funcionários.
Estima-se que nos últimos três anos o fenómeno tenha
provocado pelo menos 12 suicídios nos Estados Unidos. Recordo ainda que foi
anunciado em Setembro que a Direcção-geral de Saúde iria promover em várias
escolas do país durante este ano lectivo um projecto de prevenção
do suicídio dirigido a adolescentes. Felizmente, a taxa de suicídio
adolescente em Portugal não é muito alta, embora um só caso já seja uma
tragédia. No entanto, os comportamentos de natureza auto-destrutiva são bem
mais prevalentes do que se pensa. Em algumas circunstâncias, mais tarde estes
comportamentos podem culminar em suicídio.
Neste contexto e dada a gravidade e frequência com que
ocorrem estes episódios é imprescindível que lhes dediquemos atenção
ajustada, nem sobrevalorizando o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando
negligenciando riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos fundamentais de
intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção depois dos
problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma simplista,
assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e punição, sendo
que podem coexistir. Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do bullying,
as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais alto que as
vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e apoio para além
da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o bullying teve durante o seu
primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000 visitas e respondeu a 700
solicitações.
Esta utilização mostra a necessidade de dispositivos de
apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais, professores e
alunos possam obter informação e apoio. Lamentavelmente, este serviço é
exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e global do
sistema educativo, para além das insuficiências na formação de técnicos e de
professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu reconhecimento.
A existência de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com recursos qualificados
e suficientes é, a par de ajustamentos nos modelos de organização e
funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação curricular, uma tarefa
urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é aceitável
porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais caras. Depois
das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é
necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais
de mal estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na
escola, espaço onde passam um tempo enorme.
Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou
desvalorizados. O resultado pode ser trágico.
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