domingo, 30 de março de 2014

POLÍTICA? NÃO ME INTERESSA, NÃO ME METO NISSO.

No Público de hoje surge uma peça interessante sobre a falta de mobilização do eleitorado jovem para a participação nas eleições europeias. Nas últimas eleições verificou-se um nível de abstenção acima dos 60% com especial incidência nos cidadãos mais novos. Na peça referem-se a falta de debate e informação como factores contributivos para este alheamento para além de alguma distanciação genérica face ao universo político.
Sendo certo que se pode constatar falta de debate sério e aprofundado e de informação creio que estes aspectos não são causas do alheamento, são eles próprios consequência de um conjunto vasto de questões. Algumas notas.
Ainda relativamente a este repetidamente enunciado e constatado afastamento dos jovens das vida política, recordo um estudo divulgado em Maio pela Comissão Europeia envolvendo jovens e inquirindo-os se considerariam a hipótese de se candidatar num processo de eleição política em qualquer momento da sua vida  a que 52% dos inquiridos afirmou, “de certeza que não” e 26% refere, "provavelmente não". 
Em Portugal os dados disponíveis também apontam para um envolvimento baixo dos jovens na actividade política organizada.
Do meu ponto de vista existe uma questão central. Como muitas vezes tenho referido, o modelo e cultura política instalados há décadas na nossa comunidade, a partidocracia, fomentam, explicita ou implicitamente, o afastamento de grande parte dos cidadãos da participação cívica activa pois, basicamente, ela corre por dentro ou sob tutela dos aparelhos partidários. Aliás, os níveis crescentes e muito altos da abstenção em sucessivas eleições espelham isso mesmo.
Tal cenário alimenta um significativo e comprovado desinteresse dos jovens, mas não só, pela coisa pública e pelo envolvimento activo. Creio também que o grau de qualificação que as gerações mais recentes atingem é relevante nesta atitude crítica ou desinteressada.  A participação dos jovens na coisa política tem sido conformada, quase que exclusivamente, às juventudes partidárias, que servem, com excessiva frequência de trampolim para os lugares políticos, Passos Coelho e António José Seguro, são dois actuais e excelentes exemplos desta carreira.
Lembrar-se-ão que há alguns meses, o Dr. Fernando Negrão, figura de relevo no PSD defendia que os adolescentes do 3º ciclo "não deveriam ter contacto com a Constituição". Elucidativo.
Por outro lado, esse desinteresse pela participação cívica, alinhada nos aparelhos, alia-se a um outro entendimento de consequências extremamente importantes, a falta de esperança e confiança em que as coisas possam tornar-se diferentes, ou seja, isto não muda, não adianta. No caso das eleições europeias este entendimento de que "não serve para nada" pode ser potenciado.
Deve, no entanto, registar-se que nos últimos tempos parece estar a emergir alguma motivação para a acção cívica mas, significativamente, fora da tutela partidária. São exemplos deste caminho várias manifestações envolvendo movimentos como "Que se lixe a Troika"; "Movimento dos Indignados" ou "Precários Inflexíveis" em que a participação de jovens parece importante.
Gente mais nova, pode trazer comportamentos e ideias mais novas.

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