No Público de hoje surge uma peça
interessante sobre a falta de mobilização do eleitorado jovem para a
participação nas eleições europeias. Nas últimas eleições verificou-se um nível
de abstenção acima dos 60% com especial incidência nos cidadãos mais novos. Na
peça referem-se a falta de debate e informação como factores contributivos para
este alheamento para além de alguma distanciação genérica face ao universo
político.
Sendo certo que se pode constatar
falta de debate sério e aprofundado e de informação creio que estes aspectos
não são causas do alheamento, são eles próprios consequência de um conjunto vasto
de questões. Algumas notas.
Ainda relativamente a este
repetidamente enunciado e constatado afastamento dos jovens das vida política,
recordo um estudo divulgado em Maio pela Comissão Europeia envolvendo
jovens e inquirindo-os se considerariam a hipótese de se candidatar num
processo de eleição política em qualquer momento da sua vida a que 52% dos inquiridos afirmou, “de
certeza que não” e 26% refere, "provavelmente não".
Em Portugal os dados disponíveis
também apontam para um envolvimento baixo dos jovens na actividade política
organizada.
Do meu ponto de vista existe uma
questão central. Como muitas vezes tenho referido, o modelo e cultura política instalados
há décadas na nossa comunidade, a partidocracia, fomentam, explicita ou
implicitamente, o afastamento de grande parte dos cidadãos da participação
cívica activa pois, basicamente, ela corre por dentro ou sob tutela dos
aparelhos partidários. Aliás, os níveis crescentes e muito altos da abstenção
em sucessivas eleições espelham isso mesmo.
Tal cenário alimenta um
significativo e comprovado desinteresse dos jovens, mas não só, pela coisa
pública e pelo envolvimento activo. Creio também que o grau de qualificação que
as gerações mais recentes atingem é relevante nesta atitude crítica ou
desinteressada. A participação dos jovens na coisa política tem sido
conformada, quase que exclusivamente, às juventudes partidárias, que servem,
com excessiva frequência de trampolim para os lugares políticos, Passos Coelho
e António José Seguro, são dois actuais e excelentes exemplos desta carreira.
Lembrar-se-ão que há alguns
meses, o Dr. Fernando Negrão, figura de relevo no PSD defendia que os
adolescentes do 3º ciclo "não deveriam ter contacto com a
Constituição". Elucidativo.
Por outro lado, esse desinteresse
pela participação cívica, alinhada nos aparelhos, alia-se a um outro
entendimento de consequências extremamente importantes, a falta de esperança e
confiança em que as coisas possam tornar-se diferentes, ou seja, isto não muda,
não adianta. No caso das eleições europeias este entendimento de que "não serve para nada" pode ser potenciado.
Deve, no entanto, registar-se que
nos últimos tempos parece estar a emergir alguma motivação para a acção cívica
mas, significativamente, fora da tutela partidária. São exemplos deste caminho
várias manifestações envolvendo movimentos como "Que se lixe a
Troika"; "Movimento dos Indignados" ou "Precários
Inflexíveis" em que a participação de jovens parece importante.
Gente mais nova, pode trazer
comportamentos e ideias mais novas.
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