Têm sido notícia as dificuldades
sentidas por muitas famílias na manutenção da frequência de ensino superior por
parte dos seus filhos. As razões são quase sempre de natureza económica,
evidentemente.
É notícia hoje as dificuldade
sentidas por um grupo de alunos, mais velhos, na sua maioria os próprios
financiadores da sua formação. Dados relativos ao ensino superior público,
referem a perda de 20% de alunos deste grupo nos últimos cinco anos.
Algumas notas.
Em primeiro lugar a deve
sublinhar-se a importância da qualificação e o que de negativo em termos
individuais e também colectivos decorre da desistência destas pessoas.
Num país como o nosso, ainda
longe de cumprir níveis satisfatórios de qualificação superior, sobretudo nos
escalões etários mais elevados a questão é ainda mais importante. Aliás, em
muitos países com maior nível de qualificação média que Portugal, está a
assistir-se a um aumento da procura de formação superior por parte de cidadãos
mais velhos. Em Portugal, preocupantemente, está a verificar-se o caminho
inverso, a desistência.
Como é evidente, as dificuldades
económicas são um fortíssimo contributo para esta dificuldade de auto-financiamento
da formação. Assim sendo, a precariedade, o desemprego, o abaixamento de
salários, o empobrecimento que nos impuseram são enormes obstáculos que muita
gente não consegue ultrapassar e manter-se a estudar.
Acresce que muitas instituições
de ensino superior não apresentavam, não apresentam, capacidade de acomodação
em termos de modelos de organização escolar e funcionamento da situação de quem
trabalha diariamente em horários "normais". Com o aumento do peso das propinas nos
orçamentos das instituições a situação começou a mudar, mas em muitas
instituições e cursos as dificuldades de compatibilizar estudo com trabalho mantêm-se.
Por outro lado, afirmo isto
muitas vezes a alunos estudantes-trabalhadores a frequentar o ensino superior, que em nenhuma circunstância o nível de exigência não pode baixar para facilitar a conciliação entre
estudo e trabalho, ou seja. não podemos criar formações de "primeira"
para os estudantes a tempo inteiro e uma formação de "segunda", mais
facilitada, para estudantes que também trabalham. Entendo também que a reforma
do ensino superior, a chamada Reforma de Bolonha" não foi pensada de forma
a incluir alunos na condição de estudantes-trabalhadores.
Eu próprio realizei toda a minha
formação, desde o meio da licenciatura e toda a formação pós-graduada
acumulando com desempenho profissional e, portanto, sei das enormes
dificuldades mas, também, da necessidade da exigência e qualidade.
Para desistência destes estudantes
pode também contribuir um dos maiores equívocos construídos entre nós, a de que
temos "doutores" a mais, pelo que não vale a pena a formação de nível
superior.
Na verdade, como já disse, temos
um baixo nível de qualificação superior, sobretudo nestes escalões etários. O
que temos é desenvolvimento a menos e modelos sociais e de gestão que ainda não
absorvem como deveriam e beneficiariam mão de obra mais qualificada.
Todos os estudos e indicadores demonstram que
mesmo em conjunturas económicas adversas, estudar compensa, a qualificação é um
bem de primeira necessidade.
O nível preocupante de
desistência na formação é uma ameaça ao futuro, individual e colectivo.
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