Segundo um estudo hoje divulgado,
em 2013 a venda de livros em Portugal caiu 4,6%, o que não surpreende. Algumas
notas.
Antes de um reflexão mais
centrada nos livros parece-me de sublinhar que nós portugueses apresentamos dos
indicadores mais baixos da União Europeia no que respeita ao consumo de bens
culturais. Actividades como leitura, cinema e outros espectáculos culturais, visitas
a museus e exposição não fazem parte de forma significativa dos nossos hábitos,
mais destinados ao consumo de televisão.
Os especialistas sustentam que
esta situação, para além dos efeitos da crise na alteração de consumos, remete
para aspectos de natureza educativa e para a política relativa à cultura e à
sua valorização que tem sido seguida.
No que respeita à leitura e ao
mercado livreiro, área que conheço um pouco melhor, e que está também em
recessão como os dados hoje divulgados comprovam, importa referir que, de uma
forma geral, os bens culturais em Portugal, quando relativizados aos orçamentos
familiares médios, são um mercado caro, veja-se o preço dos livros, dos
CDs ou dos espectáculos.
O universo da cultura vive e vai
viver numa apagada e vil tristeza orçamental. Sabe-se como os museus têm
dificuldade em manter portas abertas, para não falar dos problemas com
investimentos e manutenção nos respectivos espólios. Muito do que se realiza em
Portugal em matéria de cultura está dependente de apoios privados, carolice e
mecenato e do que ainda algumas autarquias conseguem promover com orçamentos
cada vez mais apertados. A crise instalada, com o abaixamento significativo do
rendimento das famílias, agrava, naturalmente, a situação.
Por outro lado, e no que respeita
ao mercado livreiro, creio que uma das grandes razões para o preço dos livros
será o reduzido volume de consumo desse bem por parte do cidadão comum. De
facto, à excepção de alguns, poucos, nomes, edições reduzidas dificultarão, por
questões de escala, o abaixamento do preço. Algumas editores ou grupos
editoriais têm experimentado o lançamento de colecções com obras a mais baixo
custo, mas muitos dos potenciais compradores dessas obras, já as terão
adquirido pelo que, mais uma vez será difícil que sejam bem sucedidas essas
edições. Se considerarmos o caso particular da poesia a situação pode ser um
pouco mais negra, basta atentar nas montras ou nas listas dos mais vendidos num
mercado gerido por meia dúzia de pontos de venda que asseguram o grosso do
"rendimento" e por uma distribuição que trata, muitas vezes, o livro
como apenas um produto e não o distribui como um "bem".
No entanto, penso que a grande
aposta deveria ser no leitor e não no livro, ou seja, criando mais leitores,
talvez as edições, que poderiam em todo o caso ser menos exigentes em papel e
grafismo, ficassem mais acessíveis como se verifica noutros países. Esta
batalha ganha-se na escola, na educação, e na comunicação social que, sobretudo
a televisão, não valorizam como seria desejável os bens culturais.
Estaremos certamente de acordo que
um leitor se constrói desde o início do processo educativo. Desde logo assume
especial importância o ambiente de literacia familiar e o envolvimento das
famílias neste tipo de situações, através de actividades que desde a educação
pré-escolar e 1º ciclo deveriam, muitas vezes são, estimuladas e para as quais
poderiam ser disponibilizadas aos pais algumas orientações.
Nos primeiros anos de
escolaridade é fundamental uma relação estreita com a leitura, não só com os
aspectos técnicos, por assim dizer, da aprendizagem da leitura e da escrita da
língua portuguesa, mas um contacto estreito e regular com a actividade de
leitura, seja do que for, considerando motivações e culturas diferenciadas
apresentadas pelos alunos.
Só se aprende a ler, lendo, só se
aprende a escrever, escrevendo, etc. Neste contexto, não posso deixar de ficar
um pouco preocupado com o rumo da educação escolar, neste caso centrando-me no
1º e 2º ciclos, com a introdução das metas de aprendizagem com os conteúdos e
volume que apresentam e que, é minha convicção, pouco espaço deixarão a actividades como leitura livre e de
descoberta do prazer de ler.
É certo que
existe em actividade o Plano Nacional de Leitura que, parece, estará a dar
alguns resultados, mas na comunicação social generalista, por exemplo na
televisão, o livro está praticamente ausente, embora exista o "sketch"
do conhecido entertainer político, conhecido por Professor, que ao Domingo à
noite despeja livros em cima de uma secretária enquanto faz, dizem, comentário
político.
Insisto, é um problema de
leitores, não de livros, aliás e estranhamente, nunca se publicou tanto como
agora, aspecto que seria interessante analisar.
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