No Público de hoje referem-se os problemas de crianças e
adolescentes com problemas de saúde mental da região do Algarve que viram
interrompidos os apoios de que beneficiavam através de um programa, Grupos de Apoio
à Saúde Mental Infantil, que já tinha merecido prémios de boas práticas e que
em vez de ser generalizado foi suspenso com as consequências óbvias para crianças
e famílias.
Em 2012 esteve em Portugal um especialista nesta área, Peter
Wilson, que, naturalmente, referia a necessidade de que nas escolas e na comunidade próxima existam
apoios aos professores, às famílias e às crianças com dificuldades emocionais,
a única forma, entende, apoiado na sua experiência, de minimizar e ajudar neste
tipo de problemas que, não sendo acautelados, têm quase sempre efeitos
devastadores em termos pessoais e sociais. Segundo Peter Wilson, os estudos em
Inglaterra sugerem a existência de três crianças com problemas do foro
emocional em cada sala de aula pelo que o apoio é muito mais eficaz e económico
prestado na escola ou na comunidade próxima a alunos, famílias e professores.
Este entendimento é partilhado, creio, pela generalidade dos profissionais e
famílias, também em Portugal.
Suspender um programa de apoio a situações de doença mental
em crianças e adolescentes, reconhecidamente de qualidade, é algo de
inquietante.
No entanto, não é a única razão de inquietação neste
universo.
Há alguns meses a imprensa referia a inexistência de camas
nos serviços de pedopsiquiatria que possam acomodar adolescentes em
tratamento o que leva a que em muitas circunstâncias adolescentes sejam
internados em serviços de adultos o que na opinião dos especialistas pode ser
uma experiência "traumatizante" sendo, aliás, contrárias às boas
práticas de qualquer país civilizado em matéria de saúde mental. A propósito
recordo que de acordo com o relatório "Portugal Saúde Mental em
Números 2013", só 16,2% das pessoas com perturbações mentais ligeiras
e 33,8% das que sofrem de perturbações moderadas recebem tratamento em
Portugal.
Por outro lado é também conhecida a enorme dificuldade que
muitas instituições que acolhem menores estão a passar dificultando a
resposta com a qualidade bem como a possibilidade de responder a novas
situações.
Está nos livros e nas experiências que em situação de crise
os mais vulneráveis, crianças e adolescentes, por exemplo, são,
justamente, os mais sofredores com as dificuldades.
Miúdos que estão em famílias ou chegam às instituições e necessitam de um aconchego,
um ninho e uma qualidade de vida que a família, por diversas razões, não sabe,
não quer ou não é capaz de providenciar, podem sofrer uma nova penalização com
riscos fortíssimos de compromisso do seu futuro.
As crianças e adolescentes com perturbações da sua saúde
mental, casos em crescimento, precisam, imprescindivelmente de ser acolhidos e
apoiados de forma adequada. Essa é também uma responsabilidade das comunidades e de quam lidera.
Como o povo diz, sobra sempre para os mesmos.
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