domingo, 30 de março de 2014

ESQUEÇAM, A TRADIÇÃO AINDA É O QUE ERA

Na mesma linha do que já tinha sido proposto em 2011 pela Ordem do Enfermeiros, o Governo estuda a hipótese de que os enfermeiros possam em algumas circunstâncias prescrever alguns fármacos de rotina e alguns exames complementares de diagnóstico à semelhança do que se verifica em alguns países como Espanha, Estados Unidos e Inglaterra.
Tal como aconteceu  em 2011 e sem surpresa a ideia mereceu uma recusa liminar por parte da Ordem dos Médicos.
Esta reacção, obviamente de natureza corporativa, resultará, por  exemplo, de que a prescrição é uma das reservas fundamentais de poder por parte da classe médica que, prescindindo de parte dele, se sentiria enfraquecida. No entanto, a proposta da global da Ordem dos Enfermeiros envolvia vários outros actos de natureza clínica e, repito, é uma situação que se verifica em vários outros países da Europa ou nos Estados Unidos.
A argumentação com base na falta de qualificação científica dos enfermeiros para alguns dos procedimentos que se propõem assumir e, portanto, com a segurança dos doentes é naturalmente de ponderar pelo que deixo duas notas breves.
Em primeiro lugar, a formação dos enfermeiros portugueses é genericamente reconhecida internacionalmente. Sabe-se a frequência com que são recrutados profissionais em Portugal para desempenho de funções noutros países, por exemplo na Inglaterra, onde dentro dos limites estabelecidos os enfermeiros podem prescrever e desempenhar outras funções.
Por outro lado, os estudos dos hábitos ligados à saúde em Portugal mostram como somos um país com práticas muito enraizadas de auto-medicação. Tal situação, além de nos tornar fortíssimos consumidores de fármacos, representa, isto sim, uma ameaça à saúde por uso indevido do medicamento. Neste quadro, a participação dos enfermeiros no processo de acompanhamento na prescrição de certo tipo de fármacos, por maior proximidade aos cidadãos, poderia, do meu ponto de vista, ser um contributo para minimizar os efeitos desta situação.
No entanto, como sempre, vai ser uma questão de poder e, como é hábito, no que respeita ao poder reconhecido da classe médica, creio que a tradição continuará a ser o que era.

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