"Quase metade dos universitários acredita que em 2020 viverá fora de Portugal"
Um estudo realizado pela
Universidade Católica e uma consultora, Imago,
Geração 2020: O futuro de Portugal aos Olhos dos universitários, identificando as expectativas de estudantes
universitários para os próximos anos evidencia alguns dados interessantes que
motivam umas notas.
Cerca de 46% dos jovens universitários inquiridos exprime a convicção de que terá de emigrar.
Caracterizando a valorização dos
jovens de conceitos com carga negativa e com carga positiva, "emigração"
é uma referência para 50% e "esperança" o conceito positivo com mais
referências escolhido por apenas 52%. De entre os que obtiveram mais escolhas,
acima de 30%, surgem "desemprego", "pobreza",
"solidariedade", "revolução", "cultura" e
"juventude".
Apesar destes indicadores, 64% dos
inquiridos acredita que serão agentes de mudança, tal como as universidades, a
instituição em que mais confiam como capaz de promover mudança", 81%,
exprimindo ainda uma confiança elevada na família (59%) e na Europa (46%). Em
contraponto, as instituições em que menos acreditam como promotores de mudança
são os partidos políticos (13%) e a
igreja católica (7%).
Estes dados indiciam as
recorrentes preocupação dos jovens com um futuro que para muitos deles não
passa por aqui.
Na verdade, a emigração parece
estar a constituir-se como via quase exclusiva para aceder a um futuro onde
caiba um projecto de vida positivo e viável, algo que por cá não é fácil de
definir
Aliás, vários outros inquéritos a
estudantes universitários mostram como muitos admitem emigrar em busca de
melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos
afirmarem que pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há
séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar.
No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a
emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a
emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens
não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de
qualquer coisa. Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem
está começar, se sente qualifica e com o desejo de construção de um
projecto de vida viável e bem sucedido.
De todo este cenário, resulta o
retrato de um país pobre, envelhecido, onde poucos querem fazer nascer
crianças, donde muitas pessoas, sobretudo jovens, partem, fogem, à procura de
uma vida que aqui lhes parece inacessível.
Por outro lado a sua expectativa
de mudança, assente em si, na universidade e na família e ao mesmo tempo não
confiando de todo nas traves mestras do nosso sistema político, os partidos parece
conduzir a um caminho sob forte ameaça, o seu trajecto pessoal ameaçado pela
falta de oportunidades, as universidades sob ameaça de uma política cega de
desinvestimento e as famílias ameaçadas por dificuldades enormes de que se não
vislumbra a recuperação significativa.
E o futuro? O futuro não mora
aqui.
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