Um estudo, Estudo sobre a
audição da população em Portugal, hoje divulgado a propósito do Dia Mundial
do Surdo sugere que 60 % dos inquiridos entende ouvir bem. Será?
Umas notas sobre a capacidade dos
portugueses para ouvir.
No que respeita aos miúdos acho
que muitos de nós revelamos alguma dificuldade em os ouvir. Se bem repararmos,
é com frequência que os adultos se queixam de que os mais novos, quase todos, gritam
imenso, não conseguem, aparentemente, manter um registo sereno na linguagem e
também no comportamento. Na minha perspectiva e na maioria das circunstâncias,
os miúdos agitam-se e gritam porque nós os ouvimos pouco e mal, precisam mesmo
de gritar para que os consigamos ouvir e escutar.
Acontece ainda que, por vezes,
quando os ouvimos reagimos desadequadamente para ver se eles se calam, de preferência rapidamente para poupar birras e ou embaraços
Será que os ouvimos se eles
falarem mais baixo?
Se bem estivermos atentos, em
variadíssimas situações ter voz depende do volume de voz que tem de ser uns
decibéis acima do tom normal de voz, ouve-se quem grita mais alto, sobre o
ruído de fundo e o som de outras vozes que se elevam para que sejam ouvidas.
Este mundo de gritos passa-se em casa, passa-se na escola, passa-se no mundo
profissional, nos debates (!) de ideias, etc.
Vai acontecendo que se não
gritarmos não nos ouvem e, tantas vezes, instala-se uma cacofonia
ensurdecedora, rigorosamente ineficaz e cansativa que se deve, creio, a uma
crescente incapacidade de ouvirmos o outro, estamos demasiado centrados no
nosso próprio discurso.
Neste cenário e como seria
previsível existem grupos de pessoas que têm uma enorme dificuldade em se fazer
ouvir, as pessoas em situação de maior fragilidade ou vulnerabilidade, de uma
forma geral, as minorias.
Por outro lado e de forma
aparentemente paradoxal também é possível observar situações em que o silêncio
é de tal modo ruidoso que parece impossível que não oiçamos esse silêncio e
pensemos nas suas razões.
Na verdade continuo na minha,
ouvimos de menos.
Finalmente, para dificultar ainda
mais as questões da capacidade de ouvir boa parte de nós desenvolve com
naturalidade o mais comum dos problemas de audição, só ouvimos o que queremos,
temos uma surdez selectiva.
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