sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O ENSINO DA MATEMÁTICA

A Rede Eurydice divulgou hoje um relatório Comparative Overview on Instruction Time in Full-time Compulsory Education in Europe2013/14 com dados interessantes
Dos 30 países considerados, Portugal tem  maior carga horária atribuída à matemática no  Ensino Básico embora a situação no Secundário seja diferente.
Uma pequena nota no sentido de sublinhar que embora seja importante, evidentemente, o tempo destinado a cada área disciplinar não é única variável a considerar. Existem países com menos horas atribuídos e com melhores resultados.
Como é sabido, os alunos portugueses fizeram nos últimos anos progressos assinaláveis com o Programa PISA demonstrou. O investimento dos professores e das escolas e de alguns aspectos das políticas seguidas deram um enorme contributo a esta melhoria.
Acontece que nos últimos, de 2009 para 2012, os resultados estagnaram ou baixaram.
Temo que algumas das dimensões da PEC - Política Educativa em Curso não sejam alheias a esta situação, número de alunos por turma em escolas de territórios educativos mais problemáticos, cortes nos dispositivos de apoio a alunos e professores e as alterações em matéria curricular.
As mudanças curriculares em Matemática que se verificaram recentemente levantaram fortes dúvidas  aos autores do Programa de Matemática que estava em vigor. Também a Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática e a Associação Nacional dos Professores de Matemática manifestaram na altura fortíssimas reservas face ao novo Programa, alertando para o risco de retrocesso nos resultados positivos que os últimos dados dos estudos comparativos internacionais demonstraram utilizando um programa que estava agora a terminar a sua fase de generalização e era de apenas de 2007.
Com o estabelecimento das metas curriculares, com a forma e o conteúdo definidos, não a sua existência, o ensino tenderá a transformar-se na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem o que se reflectirá seguramente nos resultados.
Teremos todos de estar atentos à evolução, esperemos que positiva, dos resultados escolares nos anos próximos, embora, como se sabe, os exames, a sua dificuldade, sejam uma ferramenta de gestão política.
A ver vamos.

2 comentários:

Ana disse...

"... o ensino tenderá a transformar-se na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas..."

O futuro da forma verbal está aqui a mais.
O ensino já se transformou nessa espécie de "check list" das metas curriculares, sobretudo porque foram impostas, por vezes contra o espírito dos próprios programas das disciplinas, na forma de lista de supermercado.
Para comprovar o que digo, eis parte do que está contemplado nas metas curriculares de Português para o 9.º ano de escolaridade, por exemplo:

2 Crónicas
2 narrativas de autores portugueses
1 conto de autor de país de língua oficial portuguesa
1 texto de autor estrangeiro
4 poemas de Fernando Pessoa
12 poemas de pelo menos 10 autores diferentes
1 texto de literatura juvenil
1 peça teatral de Gil Vicente
Os Lusíadas, de Luís de Camões

Como evitar o "visto" à medida que o tempo/ano lectivo vai avançando???

Zé Morgado disse...

As metas de aprendizagem, da forma e com os conteúdos que foram definidos, são parte do problema e não parte da solução.