A DECO realizou um estudo sobre o
ambiente nas escolas, nas salas de aula, e em todas as 23 escolas estudadas se
verificaram problemas de qualidade ambiental.
O estudo, importante
evidentemente, não traz nada de novo sabemos quase todos que a qualidade do
ambiente, do clima, nas escolas está, por assim dizer, em alerta vermelho. Refiro
quase todos porque existe um pequeno grupo liderado pelo Ministro Nuno Crato
que defende que tudo está dentro da normalidade apesar das evidências e da
realidade.
Como já aqui tenho referido, o ambiente,
o clima, vivido nas escolas nos últimos anos, sobretudo a partir da passagem da
festiva Maria de Lourdes Rodrigues pela 5 de Outubro, tem vindo a degradar-se
produzindo desânimo, desmotivação, cansaço e a saída antecipada de milhares de
professores mesmo implicando a perda significativa de condições económicas que,
aliás, afectaram todos os docentes.
Associado à degradação do clima nas
escolas está o desgaste da imagem social dos professores. Como muitas vezes
tenho afirmado, os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores,
incluindo parte do discurso de responsáveis da tutela, anteriores ou actuais,
algum do discurso produzido pelos próprios representantes dos professores e
também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos
ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para uma
desvalorização significativa da imagem social dos professores, fragilizando-a seriamente
aos olhos da comunidade educativa, designadamente de alunos e pais. Este
cenário não pode deixar de se repercutir no trabalho diário nas escolas.
Quando ouvimos discursos de
professores, faço-o regularmente e não me refiro aos discursos previsíveis de
dirigentes sindicais, os testemunhos do clima vivido em muitas escolas pode ser
sintetizado em duas palavras referidas sem ordem de importância, desesperança e
indignação que resumem o ano agora a terminar e que tomaram conta das escolas
nas palavras faladas, choradas, por muitos professores, estou a falar de
Professores, não de "técnicos de educação" que sentem a dignidade
atropelada.
Para além das ignorantes e
demagógicas apreciações por parte de opinadores que por isso mesmo, ignorância
e demagogia, ou por agendas implícitas, a PEC - Política Educativa em Curso tem
contribuído nos últimos anos para criar um ambiente extraordinariamente
pesado e pouco amigável para o bom trabalho de direcções, professores,
funcionários, alunos e pais.
O arranque do ano lectivo com o inenarrável,
incompetente e arrastado processo de colocação de professores, com a definição
dos descartáveis "horários zero", as incompetências, as injustiças
conhecidas tem sido infernal e repete anos anteriores.
O constante discurso ameaçador da
dispensa dos docentes alicerçada numa demagógica utilização dos números da
demografia, instalou um clima de apreensão e insegurança devastadores, com
milhares de professores a ficar de fora e muitos outros a sentirem-se
intimidados, não porque não sejam competentes, a maioria é, não porque não
sejam necessários, muitos são, mas porque é preciso cortar, custe o que custar.
A unidade de gestão do sistema educativo passou a ser a "hora
docente" pelo que a política educativa se transformou num exercício contabilístico.
As incidências da realização da sinistra PACC constituiu outro contributo para
a degradação do ambiente nas escolas.
O aumento do número de alunos por
turma criou turmas quase sempre lotadas ou mesmo sobrelotadas nas escolas mais
problemáticas, professores com muitas turmas e centenas de alunos, sendo que
alguns ainda se deslocam entre as várias escolas do agrupamento ou ainda uma
reforma curricular que como preocupação central parece ter tido cortar nas
necessidades de professores. Assustador.
Num trabalho ainda altamente
burocratizado em que escasseiam apoios suficientes e competentes às
dificuldades de professores e alunos, o país educativo transformou-se todo ele
num imenso TEIP - Território Educativo em que se faz a Intervenção Possível.
O desencadear da extensão aos
professores da mobilidade especial, chamada de requalificação, um insulto
quando estamos a falar da classe profissional mais qualificada do país, as
rescisões "amigáveis", a perda substantiva verificada no estatuto
salarial, a deriva do MEC e os discursos de alguns responsáveis que afirmam
algo e seu contrário com o maior despudor, são outros contributos para a
indignação e desânimo que caracterizam o universo escolar destes dias de
chumbo.
É verdade que Nuno Crato afirmou
que os professores “têm a profissão mais linda do mundo” e ainda que ser
professor “é um privilégio”, assente na possibilidade de transmitir saber às
crianças.
Em muitas escolas, muitos
professores, apesar dos imperativos ético-deontológicos, dificilmente sentirão
o “privilégio” da profissão “mais linda do mundo”, lidam com um clima pouco
positivo que compromete o seu trabalho de professores, o dos alunos, dos
funcionários e dos pais e, no limite, o direito a uma educação pública de
qualidade.
Aliás, os estudos, identificam a qualidade do clima das escolas como um peça essencial da qualidade.
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