quinta-feira, 25 de setembro de 2014

A QUALIDADE AMBIENTAL NAS ESCOLAS

A DECO realizou um estudo sobre o ambiente nas escolas, nas salas de aula, e em todas as 23 escolas estudadas se verificaram problemas de qualidade ambiental.
O estudo, importante evidentemente, não traz nada de novo sabemos quase todos que a qualidade do ambiente, do clima, nas escolas está, por assim dizer, em alerta vermelho. Refiro quase todos porque existe um pequeno grupo liderado pelo Ministro Nuno Crato que defende que tudo está dentro da normalidade apesar das evidências e da realidade.
Como já aqui tenho referido, o ambiente, o clima, vivido nas escolas nos últimos anos, sobretudo a partir da passagem da festiva Maria de Lourdes Rodrigues pela 5 de Outubro, tem vindo a degradar-se produzindo desânimo, desmotivação, cansaço e a saída antecipada de milhares de professores mesmo implicando a perda significativa de condições económicas que, aliás, afectaram todos os docentes.
Associado à degradação do clima nas escolas está o desgaste da imagem social dos professores. Como muitas vezes tenho afirmado, os ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do discurso de responsáveis da tutela, anteriores ou actuais, algum do discurso produzido pelos próprios representantes dos professores e também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou menos ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para uma desvalorização significativa da imagem social dos professores, fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, designadamente de alunos e pais. Este cenário não pode deixar de se repercutir no trabalho diário nas escolas.
Quando ouvimos discursos de professores, faço-o regularmente e não me refiro aos discursos previsíveis de dirigentes sindicais, os testemunhos do clima vivido em muitas escolas pode ser sintetizado em duas palavras referidas sem ordem de importância, desesperança e indignação que resumem o ano agora a terminar e que tomaram conta das escolas nas palavras faladas, choradas, por muitos professores, estou a falar de Professores, não de "técnicos de educação" que sentem a dignidade atropelada.
Para além das ignorantes e demagógicas apreciações por parte de opinadores que por isso mesmo, ignorância e demagogia, ou por agendas implícitas, a PEC - Política Educativa em Curso tem contribuído nos últimos anos para criar um ambiente extraordinariamente pesado e pouco amigável para o bom trabalho de direcções, professores, funcionários, alunos e pais.
O arranque do ano lectivo com o inenarrável, incompetente e arrastado processo de colocação de professores, com a definição dos descartáveis "horários zero", as incompetências, as injustiças conhecidas tem sido infernal e repete anos anteriores.
O constante discurso ameaçador da dispensa dos docentes alicerçada numa demagógica utilização dos números da demografia, instalou um clima de apreensão e insegurança devastadores, com milhares de professores a ficar de fora e muitos outros a sentirem-se intimidados, não porque não sejam competentes, a maioria é, não porque não sejam necessários, muitos são, mas porque é preciso cortar, custe o que custar. A unidade de gestão do sistema educativo passou a ser a "hora docente" pelo que a política educativa se transformou num exercício contabilístico. As incidências da realização da sinistra PACC constituiu outro contributo para a degradação do ambiente nas escolas.
O aumento do número de alunos por turma criou turmas quase sempre lotadas ou mesmo sobrelotadas nas escolas mais problemáticas, professores com muitas turmas e centenas de alunos, sendo que alguns ainda se deslocam entre as várias escolas do agrupamento ou ainda uma reforma curricular que como preocupação central parece ter tido cortar nas necessidades de professores. Assustador.
Num trabalho ainda altamente burocratizado em que escasseiam apoios suficientes e competentes às dificuldades de professores e alunos, o país educativo transformou-se todo ele num imenso TEIP - Território Educativo em que se faz a Intervenção Possível.
O desencadear da extensão aos professores da mobilidade especial, chamada de requalificação, um insulto quando estamos a falar da classe profissional mais qualificada do país, as rescisões "amigáveis", a perda substantiva verificada no estatuto salarial, a deriva do MEC e os discursos de alguns responsáveis que afirmam algo e seu contrário com o maior despudor, são outros contributos para a indignação e desânimo que caracterizam o universo escolar destes dias de chumbo.
É verdade que Nuno Crato afirmou que os professores “têm a profissão mais linda do mundo” e ainda que ser professor “é um privilégio”, assente na possibilidade de transmitir saber às crianças.
Em muitas escolas, muitos professores, apesar dos imperativos ético-deontológicos, dificilmente sentirão o “privilégio” da profissão “mais linda do mundo”, lidam com um clima pouco positivo que compromete o seu trabalho de professores, o dos alunos, dos funcionários e dos pais e, no limite, o direito a uma educação pública de qualidade.
Aliás, os estudos, identificam a qualidade do clima das escolas como um peça essencial da qualidade.

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