O Ministro Nuno Crato concede ao
DN uma extensa entrevista extremamente elucidativa. Apesar de não terem sido
abordados várias importantes dimensões da educação, em todas as matérias objecto
da análise o Ministro considerou que tudo está a correr bem e com resultados
positivos desvalorizando as críticas e insistindo no humilde e nobilíssimo
gesto do pedido de desculpas sobre "a incongruência" no processo de
colocação de professores. Apesar deste patético discurso insiste que não é
relevante e que tudo continua muito bem.
O contacto diário com o universo
da educação e a leitura atenta do que vai saindo na imprensa por parte dos
agentes e intervenientes nos processos educativos, que incluem tanto
organizações ou instituições, como vozes menos “institucionais”, eventualmente
mais libertas de interesses corporativos ou de outra natureza, permitem
constatar um estranho consenso globalmente contrário à PEC - Política Educativa
em Curso, com uma pequena excepção, os interesses dos estabelecimentos de
ensino privado, básico e secundário, parecem estar a ser acautelados por Nuno
Crato.
Este consenso, pouco habitual em
Portugal, ainda que em alguns aspectos já conseguido por aria de Lourdes
Rodrigues, é sintomático e deveria ser reflectido. Os manuais de política
afirmam que não se pode governar a partir da “rua”, mas também dizem que não se
deve esquecer a “rua”. Acresce que aqui nem sequer estamos a falar da “rua” no
sentido mais habitual. Figuras de altíssimo relevo na investigação e na
ciência, os reitores e presidentes dos institutos politécnicos, bem como as
respectivos estruturas e corpos docentes e de investigação, docentes
do ensino básico e secundário, direcções de escolas e representantes dos pais,
relatórios da Inspecção-geral da Educação e da Ciência, Conselho Nacional de
Educação, estabelecem um ensurdecedor coro de críticas face às medidas globais
e sectoriais e ao desinvestimento e deriva na política do MEC.
Neste estranho cenário, o
Ministro Nuno Crato prossegue com a maior tranquilidade o seu caminho de
implosão da escola pública e de transformação regressiva da educação e do
ensino, subscrevendo decisões, orientações e práticas que a investigação e a
experiência nacional e internacional não aconselham, mas que o Ministro
persiste em levar por diante.
Esta atitude de Nuno Crato que,
creio, terá consequências sérias para o nosso sistema educativo, atropelando o
direito à educação de qualidade de milhares de alunos, cada vez me lembra mais
a história que se conta no meu Alentejo relativa ao sujeito que indo, sem dar
por isso, em contramão na auto-estrada, ouve avisar pela rádio que se encontra
um automobilista a circular em contramão naquela via. O nosso amigo condutor
ouviu e interrogou-se “Só um em contramão? Porra, aqui vão todos!”.
Não, Ministro Nuno Crato, o
senhor é que segue em contramão.
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