"Passos Coelho invocou "exclusividade”, Parlamento diz o contrário"
Na verdade não percebo muito bem as vozes que se levantam sobre
esta aparente “incongruência”, por assim dizer, no caso de Passos Coelho. Pode receber da
Tecnoforma porque não era deputado em regime de exclusividade, mas recebe o
subsídio de reintegração (?!) porque era deputado em regime de exclusividade.
Pode parecer estranha a situação mas creio que está dentro dos parâmetros de
normalidade, como agora se diz.
Este tipo de funcionamento quase constituir um traço da
nossa cultura, o "dar um jeitinho", "fazer uma
atençãozinha" ou arranjar “esquema”, só varia na escala, dos euros aos
milhões.
Trata-se de um fenómeno, um comportamento generalizado e com
o qual parecemos ter uma relação ambivalente, uma retórica de condenação, uma
pontinha de inveja dos dividendos que se conseguem e a tentação quotidiana de
receber ou providenciar uma "atençãozinha", pedir ou dar um jeito,
sempre "desinteressadamente", ou “arranjar um esquema” que rende algo.
A teia de interesses que ao longo de décadas se
construiu envolvendo o poder político, a administração pública, central e
autárquica, o poder económico, o poder cultural, a área da justiça e segurança,
parte substantiva da comunicação social e muito do nosso funcionamento
quotidiano, dificulta seriamente um combate eficaz e mudança cultural nesta
matéria. Este combate passará, naturalmente, por meios e legislação adequada,
mas passa sobretudo pela formação cívica que promova uma outra cidadania.
Certamente que poderíamos viver o “esquema”, mas não era a mesma coisa.
Certamente que poderíamos viver o “esquema”, mas não era a mesma coisa.
2 comentários:
O que me parece extraordinário é o Primeiro-Ministro ter pedido à Procuradoria-Geral da República para investigar um eventual ilícito prescrito…
Se ao Primeiro-Ministro é lícito usar o Ministério Público quando lhe dá jeito, não faltará quem encharque o Ministério Público com pedidos análogos.
A investigação de eventuais ilícitos que o tempo apagou passará a ser a ocupação do Ministério Público - um inútil dispêndio de recursos públicos - entorpecedor do normal funcionamento da Justiça e da actividade do Ministério Público.
O remeter a questão para a PGR é mais uma manhosice
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