Da entrevista de Nuno Crato à Visão que não tive ainda
oportunidade de ler, registo uma referência que encontrei na imprensa, “professor
é a mais bela e exigente profissão do mundo”. Recordo que já em Setembro de
2012 tinha afirmado que os professores “têm a profissão mais linda do mundo”
acrescentando que ser professor “é um privilégio”, assente na possibilidade de
transmitir saber às crianças.
Desta vez, finalmente, estou de acordo com o Professor Nuno
Crato e acrescentaria que, se ser professor “é um privilégio”, ter acesso à
educação de qualidade é um direito.
Creio que também estaremos de acordo que “a profissão mais
bela e exigente do mundo”, “a profissão mais linda do mundo”, de quem tem o
enorme “privilégio” de contribuir fortemente para que os miúdos sejam gente,
deve ser exercida num contexto que a defenda e que defenda a qualidade do seu
exercício envolvendo os professores, os alunos e as famílias.
Nesta perspectiva, apesar do romântico enunciado do
Ministro sobre a "mais linda profissão do mundo", diria até se ele não se incomodasse, que se trata de um discurso salpicado de algum eduquês que
certamente desagradará a José Manuel Fernandes e Guilherme Valente, ficam ainda
mais incompreensíveis algumas medidas da PEC – Política Educativa em Curso de
que Nuno Crato é responsável.
Não vou falar da questão do desemprego a que muitas pessoas
que estavam e eram necessárias na “profissão mais bela do mundo” foram e vão
ser votadas. Nem vou falar do insulto e humilhação que impôs a milhares de
docentes que tinham o privilégio de desempenhar ou queriam aceder à “profissão
mais linda do mundo” submetendo-os a uma sinistra PACC..
Mas vale a pena referir o aumento do número de alunos por
turma que em muitos territórios educativos transformarão potencialmente a sala
de aula num inferno que mais não serve do que para diminuir necessidades de
profissionais com a “mais bela profissão do mundo”.
Vale a pena referir a regular deriva nos processos de
colocação e o clima instalado nas escolas.
Vale a pena referir a espécie de reforma curricular operada,
os mega-agrupamentos com dimensões insustentáveis, os apoios a alunos e
professores insuficientes e desadequados.
Vale a pena referir …
Na verdade, dramaticamente, muitos professores não vão
sentir o “privilégio” de desempenhar a “mais bela profissão do mundo” mas vão
certamente perceber e sentir o quão exigente é, em qualquer circunstância, mesmo em ambientes tranquilos.
Muitos têm, terão, um clima infernal nas escolas e nas salas de aula que deriva
em boa parte do entendimento do Professor Nuno Crato sobre o que deve ser um
sistema público de educação e ensino.
Ainda assim, são palavras bonitas, ficam sempre
bem, mas fazem-nos duvidar.
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