"Cerca de 7% dos adolescentes magoam-se intencionalmente"
A imprensa faz referência a um
estudo orientado pelo Professor Daniel Sampaio sobre os comportamentos de
autolesão, "Comportamentos
autolesivos em adolescentes: Características epidemiológicas e análise de
factores psicopatológicos, temperamento afectivo e estratégias de coping", que importa
considerar. Cerca de 7% dos jovens inquiridos já se autolesaram. Se
acrescentarmos os que referem já ter sentido pensamentos de autolesão a
percentagem sobe para 13.%. O universo dos inquiridos abrange 1713 jovens, dos
15 aos 20 anos, de 14 escolas públicas da região de Lisboa
Estes dados são preocupantes e
vão na linha de outros indicadores. Recordo que em 2011 no estudo coordenado pela
Professor Margarida Gaspar de Matos sobre
a saúde e os comportamentos dos adolescentes portugueses, realizado no âmbito
da OMS, cerca de 15.6 % dos adolescentes inquiridos, com catorze anos de idade
média, afirma já se ter magoado de propósito mais do que uma vez nos últimos
doze meses à data do estudo. Os comportamentos de automutilação em adolescentes
são mais frequentes do que muitas vezes pensamos. Alguns estudos internacionais
apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com comportamentos de
automutilação pelo que os dados encontrados em Portugal são, de facto,
preocupantes.
Este quadro é um indicador do
mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não
conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência
situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas,
bullying por exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a
instalação de sentimentos de rejeição, ausência de suporte social,
facilitadoras de comportamentos autodestrutivos. Começa também a emergir como
causa deste mal estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem
em lidar com situações de insucesso escolar. Estas dificuldades são
frequentemente potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição
que por vezes se instala.
O sofrimento e mal-estar induz
uma espiral de comportamentos em que os adolescentes causam a si próprios
sofrimento que promove mais sofrimento num ciclo insuportável e com níveis de
perplexidade, impotência e sofrimento para as famílias também
extraordinariamente significativos.
Depois das ocorrências torna-se
sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário. Muitas crianças e
adolescentes evidenciam no seu dia-a-dia sinais de mal-estar a que, por vezes
não damos ou não conseguimos dar atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam boa parte do seu
tempo boa parte do seu tempo. De facto em muitos casos, designadamente, em
comportamentos de automutilação, pode ser possível perceber sinais ou
comportamentos indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não devem,
ser ignorados ou desvalorizados. É também importante que pais e professores
atentos não hesitem nos pedidos de ajuda ou apoio para lidar com este tipo de
situações. Muitos pais, diz-me a experiência, sentem-se de tal forma assustados
que inibem um pedido de ajuda por se sentirem culpabilizados, envergonhados ou
simplesmente por medo.
O resultado pode ser trágico.
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