Segundo o CM, a Troika já terá
arrecadadado 5,6 mil milhões de euros em comissões e juros com o generoso e
desinteressado plano de ajuda que nos disponibilizou, por solidariedade,
evidentemente.
Gostava de recuperar a entrevista
dada em Maio ao Público por Phippe Legrain, ex-conselheiro económico de Durão
Barroso, que constitui um excelente contributo para entender como a ajuda
"solidária" e "generosa" e dos nossos parceiros e que nos
empobreceu foi, fundamentalmente, resultante da incompetência das lideranças da
Comissão Europeia e da protecção dos interesses da banca francesa e, sobretudo,
alemã. Nada de novo, apenas o reforço de que a via seguida, austeridade e
empobrecimento, não era a única alternativa mas foi imposta para defender
interesses particulares e aceite sem sobressalto por uma gente sem espinha que
abdicou da sua soberania.
Recordo, aliás, que em Novembro
de 2013, já alguns países europeus consideravam cada vez mais as políticas
económicas da Alemanha como o principal obstáculo à resolução da
crise económica que atravessamos, referindo-se que a Comissão Europeia iria
desencadear uma investigação sobre os excedentes comerciais e as contas
correntes alemãs. No entanto, a situação privilegiada da Alemanha é conhecida
de há muito.
Segundo dados oficiais, a
Alemanha poupou cerca de 41 mil milhões de euros com a crise das dívidas
soberanas na zona euro devido à queda das taxas de juro sobre a sua taxa de
dívida pública, considerada um "refúgio seguro" pelos investidores do
mercado.
Recordo ainda dados de Julho de
2013 que mostravam como os grupos empresariais franceses e alemães foram os que
mais beneficiaram das políticas de ajuda do BCE sendo prejudicadas as empresas
espanholas e portuguesas. As taxas de juro do BCE decididas como medidas de
apoio à economia e a forma como os bancos gerem as taxas de juro nos
empréstimos às empresas, levaram a que, de acordo com a Comissão Europeia as
pequenas e médias empresas portuguesas, gregas, espanholas e cipriotas as que
mais são penalizadas pagando taxas de juro por empréstimos bancários entre os
6% e os 7% sendo que as alemãs e as francesas beneficiam de uns mais simpáticos
2% a 3%. Muito interessante e elucidativo.
Aliás, segundo o "Financial
Times", com base em dados do Banco Central Europeu estima-se uma
diminuição de cerca de 42 mil milhões de euros em pagamentos de dívida pelas
empresas europeias nos próximos cinco anos. Acontece que esta diminuição envolve
sobretudo os grandes grupos empresariais alemães e franceses admitindo-se uma
poupança de 14 e 9 mil milhões de euros, respectivamente e a Itália, com uma
diminuição de 2,3 mil milhões. No entanto e curiosamente, Portugal e Espanha
verão as suas empresas ainda mais penalizadas do que já estão com o aumento do
pagamento.
Um mês antes, dados do Eurostat
mostravam como de 2009 para 2012 os países do Centro e Norte da Europa ficaram
mais ricos e os do Sul mais pobres, ou seja e como sempre, a crise tornou os
ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Para exemplificar, Portugal em 2009
tinha Portugal um PIB per capita 80% da média da EU27 para em
2012 passar para 75% sendo agora um dos quatro países com menor poder de
compra.
A análise dos dados mostra como os
países envolvidos em programas de austeridade impostos pela "ajuda" se
afundaram em dificuldades e os países que generosamente "ajudam" vão
enriquecendo. Deve ser a isto que chama solidariedade e coesão europeias.
Parece claro que para além das enormes
responsabilidades políticas internas, importa considerar como, sem surpresa
face a muitos dados já conhecidos, que os países mais ricos têm beneficiado
fortemente com os pacotes de "ajuda solidária" dirigidos, impostos,
aos países mais pobres com os resultados conhecidos. Esta desinteressada ajuda
acontece mediante a cobrança de juros altíssimos. Mais um exemplo, dados de
final de 2013, Portugal paga por ano 4,4% do seu PIB em juros, 7,2 mil milhões
de euros, valor que voa dos nossos bolsos para "dezenas de cofres de
Estados e bancos europeus" como afirmava na altura o I num trabalho sobre
esta matéria.
Por outro lado e como também se
sabe, as economias fortes do norte da Europa financiam-se a taxa zero ou
mesmo, estranhamente a taxas negativas, enquanto nós, as economias do sul e a
Irlanda pagamos juros altos cujo montante seria um excelente contributo
para a redução dos nossos problemas de equilíbrio. Está certo, somos pobres,
temos o dinheiro mais caro, os mais ricos têm o dinheiro mais barato. Deve ser
isto a que chamam os mercados a funcionar.
Eu sei que sou estúpido, a
economia e as finanças constituem uma matéria inacessível ao cidadão
comum, mas parece-me, certamente de forma errada, que assim se torna mais
difícil que os países em dificuldades deixem de ser pobres e que haja maior
equidade e coesão económica e política na União Europeia.
Que não me levem a mal os nossos
generosos amigos, mas às vezes até penso que é justamente isso que pretendem
com a ajuda desinteressada que nos dão, que, naturalmente, temos de pagar mas
que nos vai deixando pobres.
Tenho até medo de estar a ser
injusto para com a sua generosidade e para com os feitores que em seu nome nos
administram e estão de forma tão empenhada e eficaz a promover o nosso
empobrecimento.
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