"Inquérito à tragédia do Meco dá razão à tese de acidente"
A tragédia da praia do Meco terá conhecido, a ver vamos, o
seu epílogo. Foi acidente pois a investigação não imputa qualquer
responsabilidade criminal ao sobrevivente.
Esta decisão estava anunciada desde o início. Dificilmente
poderia ser provado outro qualquer cenário. Funciona assim como acontece com
frequência com os Códigos de Praxe e os Tribunais de Praxe, ou seja, existem
mas servem para pouco.
No entanto, do meu ponto de vista, independentemente das
reacções emotivas das famílias que procuram um “alvo” que lhes ajude a atenuar
uma dor imensa e eterna, a questão continua nos mesmos termos, aquele grupo
reuniu-se num contexto relacionado com as actividades de praxe e era
constituído por gente responsável por essas actividades em vários dos cursos da
Lusófona.
Daqui a pouco tempo vai iniciar-se um novo lectivo como mais
uns milhares de caloiros, “bestas” como lhes chamam nas elegantes praxes
académicas, pelo que vale pena ter bem presente esta tragédia e reflectir sobre este universo. Assim, retomo
umas notas antigas.
“Como muitas vezes já
aqui afirmei partindo de um conhecimento razoavelmente próximo deste universo,
a regulação séria dos comportamentos nas praxes, se elas existirem, parece-me
absolutamente indispensável. Parece-me ainda importante que os dispositivos de
regulação das praxes integrem o respeito por posições diferentes por
parte dos estudantes sem que daí advenham consequências implícitas ou
explícitas para a sua participação na vida académica que, frequentemente, não
sendo "enunciadas", são, evidentemente, praticadas como toda gente
que conhece o meio bem sabe. Estamos a falar de gente crescida e, espera-se,
autodeterminada, seja numa posição favorável ou desfavorável. Os repetidamente
referidos "Códigos de Praxe", nas suas diferentes designações, não
parecem suficientes para inibir abusos dos comportamentos e as consequências
negativas sobre os não aderentes às praxes.
Na verdade, de forma
aparentemente tranquila coexistem genuínas intenções de convivialidade,
tradição e vida académica com boçalidade, humilhação e violência sobre o outro,
no caso o caloiro. Tenho assistido a cenas absolutamente deploráveis por mais
que os envolvidos lhes encontrem virtudes.
Apesar dos discursos
dos seus defensores, continuo a não conseguir entender como é que, a título de
exemplo, humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima
com universidade, abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência
rima com inteligência ou coacção rima com tradição. Devo, no entanto sublinhar
que não simpatizo com estratégias de natureza proibicionista, sobretudo em
matérias que claramente envolvem valores. Nesta perspectiva, parece-me um passo
positivo uma anunciada iniciativa de regulação envolvendo diferentes academias.
Quando me refiro a
esta questão, surgem naturalmente comentários de pessoas que passaram por
experiências de praxe que não entendem como negativas, antes pelo contrário,
afirmam-nas como algo de positivo na vida universitária. Acredito e obviamente
não discuto as experiências individuais, falo do que assisto.
A minha experiência
universitária, dada a época, as praxes tinham entrado em licença sabática, por
assim dizer, foi a de alguém desintegrado, isolado, descurriculado,
dessocializado e taciturno porque não acedeu ao privilégio e experiência sem
igual de ser praxado ou praxar. Provavelmente, advém daí a minha reserva.”
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