Notas do 9.º ano subiram a Português e a Matemática
Referências na imprensa na altura da
realização dos exames de Matemática e Português do 9º ano.
Na mesma altura escrevi "...
os exames constituem-se, do meu ponto de
vista, como uma arma privilegiada da gestão política do universo da educação.
Neste contexto, através da "modulação", por assim dizer, da
sua dificuldade, poder-se-á influenciar os resultados no sentido esperado e
mais favorável a interesses de circunstância. Este entendimento minimiza o
impacto das análises comparativas. Veja-se, por exemplo, a discussão recorrente
e raramente consensual sobre o grau de dificuldade e adequação dos exames.".
E também, " ... umas médias um bocadinho mais altas
vinham mesmo a calhar. Permitiriam aquele discurso em pose de estado com ar de
missão cumprida vindo da 5 de Outubro afirmando que os alunos, os professores,
as escolas e as famílias "corresponderam" com o seu trabalho
ratificando a bondade das medidas de política educativa em curso".
Foram conhecidos hoje os
resultados e, adivinhem, as médias subiram com nitidez, de 49% para 56% a
Português e de 49% para 53% a Matemática embora um terço dos alunos tenha
reprovado.
O MEC regista com agrado a subida das médias e afirma que,
“em termos gerais, estas classificações
evidenciam uma subida significativa em comparação com os resultados do ano
anterior”. Sublinha ainda a “diminuição significativa da taxa de reprovação das
disciplinas de Português e de Matemática em, respectivamente, 3 e 4 pontos
percentuais, relativamente ao ano transacto”.
O IAVE vem entretanto dizer que não
é possível de forma consistente apreciar a maior ou menor dificuldade dos
exames e as diferenças não são relevantes do ponto de vista estatístico. Também
não permitem "fazer inferências consistentes e válidas sobra a evolução da
qualidade do desempenho dos alunos”
Em que ficamos?
E entretanto ... que fazemos com
estes resultados?
3 comentários:
Fiquei perplexa com esta frase:
«Também não permitem "fazer inferências consistentes e válidas sobra a evolução da qualidade do desempenho dos alunos”»
Se por um lado me parece uma afirmação muito surpreendente por parte do MEC, de tão inédita e sensata que é, por outro lado considero assustador que seja o próprio MEC a pôr em causa a utilidade da "examocracia" que ele próprio criou e que continua a desenvolver/defender com afinco, se admite, desta forma descomprometida, a inutilidade dos resultados dos exames para aferir e apreciar a qualidade do desempenho dos alunos, desvalorizando subidas de 4 a 7 pontos percentuais. Se os instrumentos utilizados fossem fiáveis e sérios, uma subida de 4 a 7 pontos percentuais tinha, forçosamente, de merecer o regozijo da tutela e dos profissionais responsáveis por esses resultados. Mas, infelizmente, a experiência diz-nos que a elaboração das provas de exame, de ano para ano, é mais variável do que as condições climatéricas.
Assim, se nada disto serve para coisa alguma, como o próprio MEC nos permite inferir destas afirmações e, no entanto, custa tanto dinheiro ao erário público e penaliza tanto os envolvidos, para que se persiste na sua realização, sobretudo no Ensino Básico, quando cada vez se torna mais penosa para a vida das escolas (por exemplo devido ao calendário de provas de 4.º e 6.º anos)?
Removi o comentário porque tinha uma gralha. É exactamente isso, Ana
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