"Portugal já é o país da União Europeia onde nascem menos bebés"
Pelos piores motivos a questão da
demografia, ou melhor, do inverno demográfico que atravessamos entrou na agenda
e dela não sairá seguramente nos próximos anos.
Muitos factores conduzem a esta preocupante situação daí,
também, a dificuldade de a inverter.
Recordo que há poucos dias foi divulgado um estudo no qual
se referia que 75% das pessoas em idade fértil não pensavam em ter filhos nos
próximos 3 anos e, no mesmo sentido e também recentemente um relatório sobre “A
prestação de cuidados pelos avós na Europa”, em que se analisam as
políticas familiares e a sua influência no papel dos avós na prestação de
cuidados às crianças envolvendo a Áustria, Bélgica, Dinamarca, França,
Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Portugal, Espanha
Itália e Roménia, concluiu que as mães portuguesas com filhos até aos seis anos
são as quem mais trabalham a tempo inteiro, sendo também Portugal um dos países
estudados em que os avós mais cuidam dos netos.
Estes dados inscrevem-se e devem ser analisados sabendo que Portugal
também integra o grupo com menores apoios sociais para que os pais fiquem mais
tempo em casa com filhos pequenos e ainda que “há pouca oferta de estruturas
formais de acolhimento de crianças e poucas oportunidades das mães trabalharem
a tempo parcial". Por outro lado, Portugal tem um dos mais elevados custos
de equipamentos e serviços para crianças o que, naturalmente, é mais um
obstáculo para projectos de vida que envolvam filhos.
Este cenário ajuda também a perceber o inverno demográfico
que atravessamos com uma diminuição brutal dos nascimentos, dados de 2013
mostram que Portugal é país da Europa com a mais baixa taxa de natalidade, 7,9
criança por 1000 habitantes, contrariando a tendência europeia de crescimento
populacional.
A austeridade submergiu os nascimentos.
Quando abordo estas questões recordo sempre alguns trabalhos
que evidenciam o facto de as mulheres portuguesas, entre as europeias, serem
das que mais valorizam a carreira profissional e a família.
Não pode ainda esquecer-se a discriminação salarial de que
muitas mulheres, sobretudo em áreas de menor qualificação, são ainda alvo e a
forma como a legislação laboral e a sua “flexibilização” as deixam mais
desprotegidas. São conhecidas muitas histórias sobre casos de entrevistas de
selecção em que se inquirirem as mulheres sobre a intenção de ter filhos, sobre
casos de implicações laborais negativas por gravidez e maternidade, sobre
situações em que as mulheres são pressionadas para não usarem a licença de
maternidade até ao limite, etc. Foi recentemente noticiado que algumas empresas
exigem às mulheres um compromisso de que não irão engravidar nos próximos 5
anos.
Toda esta situação torna urgente a definição de políticas de
apoio à família com impactos a curto e médio prazo como, por exemplo, a
acessibilidade aos equipamentos e serviços para a infância com o alargamento da
resposta pública de creche e educação pré-escolar, cuja oferta está abaixo da
meta estabelecida bem como combater a discriminação salarial e de condições de
trabalho através de qualificação e fiscalização adequadas.
Seria ainda importante, à semelhança do que se passa noutros
países, a introdução de ajustamentos na organização social do trabalho, no
tempo parcial e nos horários, por exemplo, que tornassem mais
amigáveis e compatíveis para famílias com filhos os desempenhos
profissionais. Os custos destas medidas seriam certamente compensados em
várias dimensões.
É uma questão de futuro e não se pode pensar em iniciativas
avulsas e voluntaristas.
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