"Ministério da Educação propõe prémio para câmaras que trabalhem com menos docentes"
Apesar de poucas coisas já me
surpreenderem por parte do MEC, confesso a minha perplexidade perante a
proposta agora conhecida de no quadro de um movimento de municipalização das
escolas se introduzir um "factor de eficiência" (sempre a eficiência)
que visa premiar as câmaras que consigam empregar menos professores que os
necessários, repito, menos professores que os necessários.
A ver se nos entendemos, de
acordo com uma avaliação de necessidades, independentemente dos critérios
usados, para uma população escolar definida seria necessário um determinado
grupo de professores. No entanto, se as autarquias conseguirem que as escolas
funcionem com menos docentes terão um "prémio de eficiência". Das
duas uma, ou os professores não seriam NECESSÁRIOS ou estamos em presença de mais
um exercício de contabilidade em que a PEC- Política Educativa em Curso se
transformou. Não fosse a educação matéria tão importante e julgaria que
tínhamos entrado já na "silly season".
Por razões que já ontem referi,
este processo de municipalização das escolas deveria ser muito bem analisado,
estamos a caminhar no mau sentido conforme evidenciam experiências noutros
países e conhecimento do que se passa nos territórios educativos em Portugal
sugerem.
Assim sendo, umas notas breves e muito inquietas para enquadrar este proposta. Na verdade, creio que esta medida se inscreve na
visão de "eficiência", "excelência, "rigor",
"qualidade" que o Ministro Nuno Crato tem do sistema público de
educação e ensino, aliás, com cada vez menos "educação" e mais
"ensino" e também cada vez menos "público".
A medida de "eficiência"
na gestão de professores junta-se ao incremento dos exames, idealmente a realizar
todos os anos de forma a garantir que eficazmente se identificassem todos os alunos
que por qualquer razão não devem continuar a estudar.
Estes alunos são naturalmente
canalizados, o mais cedo possível, para programas de formação profissional em
modo alemão. Esta parte do sistema é completamente financiada pelas
empresas que teriam como compensação a possibilidade de recrutar
mão-de-obra barata e com qualificação. Este trajecto vai ao encontro dos
desejos e planos de alguns gurus que influenciam a política de proletarização
da economia que está em curso. Os alunos com maiores dificuldades, mais exigentes em recursos docentes e apoios e, alguns deles, sem acesso a "resultados escolares" (certificados em exames) serão, de mansinho "convidados" a sair, ficam muito caros nas escolas e comprometem a "eficiência".
Se mesmo assim ainda ficar nas
escolas algum aluno com dificuldades definem-se turmas só para essa gente que
atrapalha quem quer progredir e que seriam atribuídas a assistentes
operacionais ou a docentes descartáveis contratados a baixo custo em "out
sourcing" pois não seria de gastar dinheiro com tão ruins defuntos,
permitindo reduzir ainda mais o número de professores, uma subclasse da
administração pública muito chata e desagradável que passa o tempo a protestar
não passando de uma malandragem que não quer trabalhar.
Assim, creio que estaríamos no
bom caminho para construir um sistema educativo bem mais tranquilo,
promovendo-se a saída de professores e alunos das escolas, ficando apenas os alunos
muito bons e o menor número possível de professores transformando cada escola
num espécie de paraíso.
Criado este cenário, a
tranquilidade de uma escola só com os melhores alunos poderemos ainda dar o
salto final para a verdadeira economia de custos e a cereja em cima do bolo da
política contabilística, perdão, da política educativa, montar um sistema de
e-learning para o qual bastaria meia dúzia de professores por área disciplinar,
mais uns mediadores por escola, poucos, que os alunos são bons, e construir
um sistema perfeito, certamente eficaz, certamente mais barato, certamente
mais tranquilo.
Desculpem lá o humor de mau gosto
com coisas tão sérias mas já não é possível entender esta gente com seriedade e
de forma racional. Esta gente não é ignorante, sabe o que nós sabemos, conhece o que nós conhecemos. Acontece "apenas" que tem uma missão a
cumprir, promover uma outra visão de escola, de educação, no fundo ... de
sociedade.
É, na verdade, muito sério.
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