"Directores de cadeias que não reduzam número de reclusos reincidentes serão afastados"
No Público surge a referência que
me parece de registar à intenção da Direcção-geral da Reinserção de Serviços
Prisionais de promover reformas no sistema prisional que minimizem o risco de
reincidência que se situa em cerca de metade da população prisional. Ao
problema da reincidência acresce a sobrelotação da maioria dos estabelecimentos
prisionais.
Para além desta opção, combate
sério à reincidência através de programas com recursos e objectivos adequados,
julgo que deve continuar-se, sempre que possível, a recorrer ao trabalho comunitário em
substituição de multas ou de penas de prisão para determinado tipo de crimes.
Parece também de continuar a
promover, na situações adequadas e controladas, evidentemente. o recurso à
pulseira electrónica cuja baixa taxa de incumprimento, 5.9% aconselha a
utilização. Acresce que a utilização
destes dispositivos alivia a pressão sobre os estabelecimentos prisionais que
se encontram em sobrelotação, bem como tem impacto nos custos, a prisão tem um
custo diário de perto de 50€, face aos
16.35 € da prisão domiciliária. Aliás, em termos comparativos, temos uma
das mais altas taxas europeias de prisão preventiva com custos fortíssimos.
Mais importante ainda, dada a
natureza flexível das restrições impostas com estes procedimentos, e mesmo em
alguns casos de uso da pulseira electrónica, a pessoa pode sair para trabalhar
ou assistir a aulas, por exemplo, os processos de reinserção são, naturalmente
incentivados e mais eficazes.
Parece-me muito positivo este
caminho, alternativo à prisão clássica, por assim dizer, que de há muito
defendo sobretudo em situações que envolvam gente mais nova e conjugado com a
obrigação de frequência de programas de formação escolar ou profissional. Complementarmente, no
âmbito do cumprimento de penas de prisão efectiva torna-se então necessária a
promoção de programas e dispositivos de apoio, com o envolvimento das
comunidades que minimizem significativamente o risco de reincidência.
Existe, no entanto, um discurso e
um pensamento mais conservadores sustentados numa visão securitária que
continuam a fazer-se ouvir defendendo a prisão como a medida mais correcta o
que, comprovadamente, se reconhece não se verificar em muitíssimos casos. Como é reconhecido, 50% de taxa de
reincidência, os estudos e a realidade mostram com clareza que as medidas de
restrição de liberdade quando não acompanhadas por outro tipo de intervenção
não a minimizam significativamente, nomeadamente em gente mais nova. Também se
reconhece que frequentemente o universo prisional é uma "escola" e um
factor de risco de agravamento de comportamentos de delinquência o que potencia
a reincidência..
Como é óbvio tal entendimento não
significa que nas situações de maior gravidade no crime cometido ou de risco de
continuidade da actividade criminosa não seja de recorrer a medidas mais
restritivas. De qualquer forma e sobretudo com gente mais nova a prisão dever
ser de natureza excepcional e, desejavelmente, de curta duração.
Os comportamentos delinquentes
são no fundo um desrespeito e agressão aos valores da comunidade pelo que
parece lógico que em consequência desses comportamentos o seu autor seja
colocado a desenvolver actividades que sirvam e “reparem” a comunidade
“ofendida” e que, simultaneamente, forneçam sistemas de valores que possam
influenciar e reabilitar os valores dos indivíduos envolvidos.
No entanto, apesar deste caminho
de alteração na forma como a jusante lidamos com os comportamentos delinquentes
de jovens e adultos, é fundamental que percebamos o que a montante contribui
para a emergência desses comportamentos, ou seja, as causas. E também nesta
matéria me parece de privilegiar intervenções de natureza comunitária.
Não há outro caminho.
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