"Falta motivação nas escolas? O rap pode dar uma ajuda"
Eu sei que alguns acharão estas notas um disparate.
Eu sei que alguns que acharão estas notas um disparate não
sabem de gente pequena e das coisas da escola. Eu também sei que alguns que
acharão estas notas um disparate pensam genuinamente que este é um caminho
errado e, por isso, discordam,
Eu sei que a cultura da escola, as actividades da escola, os
conteúdos dos programas, a forma de trabalhar os conteúdos dos programas, a
relação a estabelecer com a escola, com os professores, enfim, todas as
dimensões do trabalho escolar são desenhadas e destinadas ao que poderemos
chamar de “aluno ideal” não porque seja “perfeito” mas porque se “encaixa”, se “acomoda”
no que a escola estrutura para si.
Eu sei, todos sabemos, que alguns alunos, por várias razões,
mais de dentro ou mais de fora, não se “encaixam”, não se “acomodam” na escola e
traduzem essa situação em comportamento, insucesso, desmotivação ou abandono.
Eu sei que poderemos insistir em dar mais do mesmo e esperar
por mudanças que provavelmente não acontecerão.
Eu sei que poderemos achar que talvez seja melhor
proporcionar-lhes outra estrada, orientá-los “vocacionalmente”, por assim
dizer.
Eu sei que podemos até desistir, afinal nem toda a gente tem
jeito ou motivação para a escola. Já ouvi mesmo enunciar o direito a não
aprender.
Eu sei que lidar com estas situações é tremendamente
difícil. Ainda mais se torna quando o clima, a visão, os recursos disponíveis,
não são particularmente amigáveis para a ideia de que é “preciso fazer alguma
coisa por esta gente”, “não se pode perder”.
Eu sei, conheço várias situações, de professores e escolas
que desenvolvem experiências notáveis ajudando a criar com os miúdos “não
acomodáveis”, que não se “encaixam” verdadeiros projectos de vida e de sobrevivência.
Finalmente, eu sei, estes professores e estas escolas também
sabem, que para agarrar os alunos é preciso “procurá-los” onde eles “existem” e
não, por mais boa vontade e empenho que tenhamos, onde gostaríamos que eles existissem.
Na verdade, alguns só “existem” na rua, no rap, no CR7, nas ruas do Bairro ou
perdidos de qualquer coisa.
Mas, provavelmente, estas notas são mesmo um disparate.
A escola deve ser para quem quer aprender, para quem quer
ter sucesso, para os que querem e são capazes de ser excelentes no que nós
achamos que devem ser excelentes. Os outros só atrapalham, são uns escolantes,
só vêm à escola, quando vêm, não estudam nem se interessam.
Qua andam cá a fazer? A arranjar problemas, é claro.
1 comentário:
A lucidez habitual, mais uma exposição de ideias clarinha como a água, esperemos que quem de direito entenda que a mudança, a flexibilidade do sistema serão a única possibilidade de acompanhar a individualidade, padrões são possíveis, mas são talvez aceites apenas por 50% quando muito! e desses 50% apenas 25% serão felizes ao seguir esse padrão.
Obrigado por mais um texto de sugestão, de esclarecimento e eventual ignição para alguns reflectirem sobre o caminho a seguir quanto à educação dos seus brotos.
Grande abraço Zé.
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