“Há uma legião de jovens em grande sofrimento e a precisar de ajuda”
O Público de hoje apresenta um interessante e oportuno
trabalho centrado nos problemas da saúde mental de crianças e adolescentes. A
propósito da época de exames em curso, em que se verifica o aumento de
situações de ansiedade e ou depressão, por exemplo, é abordado o crescimento
das situações globais de perturbação da saúde mental, por vezes não valorizadas, e das dificuldades em providenciar
respostas adequadas.
Algumas notas, sublinhando a importância e oportunidade
desta questão.
Em Maio, o Expresso relatava que em 2013 se tinham registado
cerca de 20 000 novas consultas de pedopsiquiatria, mais 30% que em 2011. É um
indicador preocupante e ainda mais preocupante pela inexistência de resposta
adequada e acessível para muitas crianças e adolescentes.
Recordo também que em Março foi noticiada a interrupção dos
apoios a crianças e adolescentes da região do Algarve pois o programa de que
beneficiavam, Grupos de Apoio à Saúde Mental Infantil, que já tinha merecido
prémios de boas práticas, foi suspenso em vez de ser generalizado. Esta
suspensão foi obviamente sentida com grande inquietação por famílias e
profissionais.
Em 2012 esteve em Portugal um especialista nesta área, Peter
Wilson, que, naturalmente, referia a necessidade de que nas escolas e na
comunidade próxima existam apoios aos professores, às famílias e às crianças
com dificuldades emocionais, a única forma, entende, apoiado na sua
experiência, de minimizar e ajudar neste tipo de problemas que, não sendo
acautelados, têm quase sempre efeitos devastadores em termos pessoais e
sociais. Segundo Peter Wilson, os estudos em Inglaterra sugerem a existência de
três crianças com problemas do foro emocional em cada sala de aula pelo que o
apoio é muito mais eficaz e económico prestado na escola ou na comunidade
próxima a alunos, famílias e professores. Este entendimento é partilhado,
creio, pela generalidade dos profissionais e famílias, também em Portugal e os dados connhecidos apontam nesse sentido.
Suspender um programa de apoio a situações de doença mental
em crianças e adolescentes, reconhecidamente de qualidade, é algo de
inquietante mas, como se vê não é a única fonte de inquietação.
Há alguns meses a imprensa referia a inexistência de camas
nos serviços de pedopsiquiatria que possam acomodar adolescentes em
tratamento o que leva a que em muitas circunstâncias adolescentes sejam
internados em serviços de adultos o que na opinião dos especialistas pode ser
uma experiência "traumatizante" sendo, aliás, contrárias às boas
práticas de qualquer país civilizado em matéria de saúde mental. A propósito
recordo que de acordo com o relatório "Portugal Saúde Mental em
Números 2013", só 16,2% das pessoas com perturbações mentais ligeiras
e 33,8% das que sofrem de perturbações moderadas recebem tratamento em
Portugal.
Está nos livros e nas experiências que em situação de crise
os mais vulneráveis, crianças e adolescentes, por exemplo, são,
justamente, os mais sofredores com as dificuldades. Acresce que, actualmente,
se verifica em muitos agregados familiares e em contextos escolares a
emergência de discursos que pressionam os mais novos no sentido de atingirem a
excelência nos resultados escolares ou em qualquer actividade “importante” pois
será, dizem, a “única” forma de atingir um patamar de sucesso futuro.
Como se
sabe e a experiência mostra muitas crianças e adolescentes não suportam
tranquilidade esta pressão o que se repercute no seu bem-estar e na sua saúde
mental. Para complicar um pouco mais, ainda se verifica que algumas pessoas
desvalorizam estes fenómenos, entendendo que é preciso ser exigente e bem
sucedido e não entendendo o sofrimento de algumas crianças e jovens.
Por outro lado é também conhecida a enorme dificuldade que
muitas instituições que acolhem menores estão a passar dificultando a
resposta com a qualidade bem como a possibilidade de responder a novas
situações.
Os miúdos nas famílias, preferencialmente, ou nas
instituições, necessitam de um aconchego, um ninho, uma qualidade de vida que os
cuidadores, por diversas razões, não sabem, não querem, não podem ou não são capazes
de providenciar. Tal cenário implica riscos fortíssimos de compromisso do seu
futuro pelo que os apoios e resposta não podem, não devem, falhar.
Como o povo diz, é de pequenino que se torce o … destino.
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