"Cantinas voltam a abrir no Verão para apoiar alunos carenciados e permitir actividades"
Já nos vamos habituando a que muitas autarquias mantenham as
cantinas escolares abertas durante as férias escolares. De facto, muitas
crianças e adolescentes encontram na cantina escolar a única refeição
consistente e equilibrada a que acedem.
Como se sabe, as carências alimentares atingem muitíssimas
famílias, o próprio MEC procurou responder através do PERA - Programa Escolar
de Reforço Alimentar, durante o último ano lectivo, são múltiplas as situações
de crianças a chegar à escola sem alimentação, sendo que as únicas refeições
que a que acedem são as que as escolas proporcionam o que também tem levado
justamente inúmeras autarquias a manter abertas nas férias a cantinas escolares.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das
crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento
é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos
mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente
negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades
básicas.
É também reconhecido que as crianças constituem um dos
grupos mais vulneráveis e que sofrem maiores consequências das dificuldades
sentidas nas suas comunidades e famílias.
Um Relatório de 2013, "Food for Thought", da
organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças terão o seu
desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas
consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é
uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências,
não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais
referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social
através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história,
umas das maiores lições que já recebi e que já contei várias vezes e que me
aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para
gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda
durante a estadia por lá, me dizer que se mandasse traria um camião de
batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que
aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o
Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão continuar
pobres.
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