quinta-feira, 24 de julho de 2014

A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA EM ALERTA VERMELHO

"Impugnar ou não a avaliação aos centros de investigação, eis a questão"

Desculpem a insistência mas dado que o processo ainda não está fechado, retomo a questão da avaliação das estruturas do sistema de investigação científica português. A coisa resume-se facilmente. A Fundação para a Ciência e Tecnologia contratou uma moribunda European Science Foundation para um trabalho sujo, liquidar parte significativa das estruturas de investigação existentes em Portugal.
Definiu à partida que metade das entidades deveria ser eliminada logo na primeira fase e a ESF  que fizesse o trabalho. O resultado deste tenebroso processo é conhecido, existindo inúmeros casos com avaliação que causam verdadeira perplexidade.
Nas avaliações realizadas verificou-se de tudo, critérios ambíguos e falta de transparência, avaliação de áreas científicas por avaliadores sem rosto, fora dessa área e sem peso científico, avaliações completamente contraditórias, mal fundamentadas, sobre o mesmo trabalho, ignorância sobre algumas temáticas em avaliação, desconhecimento das variáveis contextuais, etc.
O resultado pretendido pela FCT foi atingido, boa parte do tecido de investigação em Portugal foi, vai ser, destruído. Muitos Laboratórios e Centros de investigação com resultados importantes e reconhecidos terão fortemente comprometido, quando não impossibilitado, o seu trabalho. É uma irresponsabilidade delinquente.
Nada disto quer dizer, evidentemente, que a investigação não deva ser avaliada e escrutinados os apoios financeiros e que os dispositivos de avaliação não devam ser alterados para que melhor cumpram o seu importante objectivo, a promoção da qualidade e a justiça nas aplicação dos financiamentos. A questão é que esta avaliação deve ser séria e competente, com critérios claros e por avaliadores externos reconhecidos e competentes  nas áreas  que avaliam.
Também sem surpresa e na linha das apreciações do Ministro Nuno Crato, o Presidente da FCT, Miguel Seabra, afirmou que o processo foi competente e adequado, promove a excelência, o rigor ... blá, blá, blá. Trata-se do estranho entendimento de normalidade que faz escola no MEC. 
A questão é que este processo montado para eliminar muitas estruturas terá custos brutais para o Portugal.
Na verdade, está estudada e reconhecida de há muito a associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de vida e condições de saúde, por exemplo.
Este processo ameaça muito severamente, os excelentes resultados que muitos centros, laboratórios e unidades de investigação e as instituições de ensino superior têm vindo a alcançar e que atestam o esforço e a competência da comunidade científica portuguesa e o trabalho realizado no âmbito do ensino superior e investigação, traduzidos no reconhecimento internacional das nossas instituições.
A negrura crática que cai sobre a investigação vai ter consequências brutais em termos de desenvolvimento científico e económico para além, evidentemente, do impacto nas carreiras pessoais assim ameaçadas de milhares de pessoas que investigam, criam conhecimento, promovem desenvolvimento e que, provavelmente, desistem ou emigram.
E assim se destrói uma política científica que vinha a produzir  resultados positivos.
A história não os absolverá.

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