A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima vai
divulgar hoje os resultados de um estudo sobre a frequência e o conhecimento
sobre stalking, cyberstalking, bullying e cyberbullying.
Mais de um quarto dos inquiridos afirmam conhecer alguém que já foi vítima de
algum destes comportamentos e 5% assume já ter sido vítima. Técnicos da Associação
admitem que os resultados podem estar subavaliados pois a maioria dos
inquiridos não conhece a designação "stalking", embora conheça os
comportamentos envolvidos.
Umas notas sobretudo a propósito do universo que
conheço melhor, o dos mais novos, onde prevalecem as diferentes formas de
bullying incluindo o cyberbullying e que ocorrem predominantemente em contextos
escolares.
São frequentes os relatos na imprensa sobre
situações de bullying nas nossas escolas, por vezes com situações de sofrimento
particularmente graves levando, no limite, a tragédias como a que afligiu no
final do ano passado uma menina canadiana que aos 15 anos deu fim à sua
narrativa após três anos de sofrimento intenso vítima de ciberbullying. Tudo
começou com uma fotografia ingenuamente colocada nas mãos de alguém que a
divulgou e as consequências foram trágicas.
Felizmente que os casos de bullying nas suas
diversas formas não terminam todos nesta tragédia, mas são sempre uma tragédia.
Por outro lado, a frequência com que ocorrem
estes episódios solicita que lhes dediquemos atenção ajustada, nem
sobrevalorizando o que promove insegurança e ansiedade, nem desvalorizando
negligenciando riscos e sofrimento.
Neste universo importa considerar dois eixos
fundamentais de intervenção por demais conhecidos, a prevenção e a intervenção
depois dos problemas ocorrerem. Esta intervenção pode, por sua vez e de forma
simplista, assumir uma componente mais de apoio e correcção ou repressão e
punição, sendo que podem coexistir.
Com alguma demagogia e ligeireza a propósito do
bullying, as vozes a clamar por castigo têm do meu ponto de vista falado mais
alto que as vozes que reclamam por dispositivos de prevenção, intervenção e
apoio para além da óbvia punição, quando for caso disso.
Relembro que o Portal sobre o bullying teve
durante o seu primeiro ano de funcionamento cerca de 650 000 visitas e respondeu
a 700 solicitações.
Esta utilização mostra a necessidade de
dispositivos de apoio e orientação absolutamente fundamentais para que pais,
professores e alunos possam obter informação e apoio. Lamentavelmente, este
serviço é exterior às escolas e ilustra a falta de resposta estruturada e
global do sistema educativo, para além das insuficiências na formação de
técnicos e de professores sobre esta complexa questão, desde logo para o seu
reconhecimento. A definição de dispositivos de apoio sediados nas escolas, com
recursos qualificados e suficientes é, a par de ajustamentos nos modelos de
organização e funcionamento das escolas e de uma séria reestruturação
curricular, uma tarefa urgente.
Do meu ponto de vista, o argumento custos não é
aceitável porque as consequências de não mudar são incomparavelmente mais
caras. Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa
mas é necessário. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia a dia
sinais de mal-estar a que, por vezes, não damos atenção, seja em casa, ou na
escola, espaço onde passam um tempo enorme. Estes sinais não podem, não devem,
ser ignorados ou desvalorizados.
O resultado pode ser trágico. A Amanda, a menina
canadiana, descansou da única forma que não podia e não devia.
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