Estava escrito nas estrelas. O impossível
compromisso, como lhe chamei quando Cavaco Silva, numa não decisão e em nome da
estabilidade, prolongou a instabilidade, revelou-se isso mesmo, impossível, o
PS não aceita estabelecer um acordo e não tardarão as responsabilizações recíprocas. Aliás, o PSD já veio a terreiro responsabilizar o PS, que já tinha responsabilizado o PSD e o CDS-PP, que irá responsabilizar o PS, que ...
Disse na altura o Presidente da República que responsabilizava
as lideranças políticas e que se o “compromisso de salvação nacional” falhasse
os portugueses seriam capazes de tirar ilações dessas responsabilidades.
É verdade, os portugueses vão tirar ilações como
têm vindo a tirar ilações, veja os índices de confiança na classe política, os
índices de abstenção e a desesperança instaladas.
Creio que quem deve tirar ilações é o Presidente
da República.
Contrariamente ao que a maioria das lideranças
parece acreditar, incluindo o Senhor, a realidade não é a projecção dos nossos
desejos, diariamente ouvimos discursos dizendo-nos, por exemplo, que estamos no
bom caminho e o desemprego continua a crescer. E o Senhor sabe bem, sim não
vale a pena dizer que não é político, que na cultura e na praxis política que
temos, “consenso” ou variantes como “pacto de regime”, “desígnio”, “grande
projecto”, etc., fazem parte do núcleo duro da retórica política e constituem
referências obviamente inconsequentes.
A partidocracia instalada leva a que, na
generalidade das matérias, os interesses partidários se sobreponham aos
interesses gerais, a conflitualidade que sendo importante e muitas vezes
estimulante e promotora de mudança, é assente em corporações de interesses e
clientelas que inibem a definição de rumos e de perspectivas que visem o
interesse geral. O Presidente, o Primeiro-ministro, os parceiros sociais, as
lideranças partidárias e sociais sabem-no bem, fazem parte do sistema, pelo que
os seus discursos se inscrevem no próprio funcionamento do sistema e que conduz
ao que temos, sendo que as alternativas prováveis não são particularmente
animadoras.
A conflitualidade inerente aos interesses da
partidocracia tornariam obviamente impossível o estabelecimento formal do tal
entendimento alargado ou consenso.
O que a história a autoriza a considerar como
plausível, seria a definição de uma cenário de mudança com base numa
"negociação" mais ou menos discreta e não ameaçada pela alternância
de governo entre os chamados partidos do arco do poder pois, em substância, a
questão é justamente o poder. As experiências governativas envolvendo
"entendimentos" entre PS e PSD mostram isso mesmo, morrem, pois
acabam por não "servir" a nenhum deles.
Assim sendo, os partidos, movimentos ou cidadãos
que não têm voz nos corredores do poder, ficarão sempre de fora do entendimento
ou do consenso pelo que o poder mesmo que em alternância, é a democracia a
funcionar, dirão, acaba por estar basicamente nas mesmas mãos, sendo que estes
que não "chegam" a estar representados no poder são a maioria. Aliás
e curiosamente, já se fala em possíveis "entendimentos" entre PS e
CDS-PP num cenário de governação pós-Passos Coelho.
Como referi num texto anterior, a manutenção
desta solução governativa tem sido justificada com a ideia de uma
imprescindível estabilidade política. Como é óbvio, não creio que exista alguém
que sustente a instabilidade política como um bem. Mas a questão central, do
meu ponto de vista, é que a estabilidade assenta em políticas sólidas, claras e
transparentes, sérias e credíveis, com visão, viradas para as pessoas. Estas
características, entre outras é que dão estabilidade, segurança, confiança, às
pessoas.
Por outro lado, a estabilidade não é a manutenção
de pessoas e de políticas que têm falhado, nacional e internacionalmente, como
alguns dos autores principais reconhecem e os resultados conhecidos atestam,
não é a falha sucessiva de previsões e objectivos, não é um permanente jogo de
interesses e de gestão dos poderes pessoais e partidários. A estabilidade não
pode assentar na pobreza, exclusão e desemprego crescentes. A estabilidade não
se alimenta da desesperança que nos invade. Tudo isto é que verdadeiramente
constitui a instabilidade.
Assim, paradoxalmente, em nome da estabilidade
prolongou-se e sustenta-se a instabilidade acreditando num salvífico compromisso
que era previsivelmente impossível.
E agora Senhor Presidente da República, que
ilação tira?
1 comentário:
Agora?!
Se o Sr. Cavaco Silva tivesse mais uns milhões vindos da CE a fundo perdido acabava com a TAREFA QUE COMEÇOU ou seja, fazia mais umas centenas de quilómetros de alcatrão desnecessários, abatia o resto da frota pesqueira, acabava com a agricultura que resta, desmantelava o resquício da indústria pesada e o problema estava resolvido.
Mas como a torneira da CE está fechada e os beneméritos não estão dispostos a andar ao colo com governantes incompetentes, o Senhor Presidente tem a atitude de jogador inveterado e quase na falência: APOSTA E PERDE O SEU ÚLTIMO CENTIMO E VAI A PÉ PARA CASA.
E o povo que se aguente porque os seus 10.000€ mensais de reforma serão os primeiros a cairem-lhe na sua conta bancária. OU DUVIDAM?!
VIVA!
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