A imprensa de hoje refere que pouco mais de 390
000 pessoas receberam prestações de desemprego em Junho o que corresponde a 41 % do total de
desempregados segundo o último número do INE.
Até Junho de 2013, menos cerca de 69 000 pessoas
recebiam o Rendimento Social de Inserção quando comparado com Junho de 2012. O
número actual é de 271302 beneficiários.
Este cenário impressionante, que pode agravar-se
com a anunciada reforma do Estado, isto é, cortes nas suas funções sociais,
coloca uma terrível e angustiante questão. Os milhares, muitos, de pessoas
envolvidas vão (sobre)viver de quê?
Sendo de esperar a continuação de um período
recessivo e, portanto, sem crescimento, torna-se impossível criar a riqueza
necessária e redistribuí-la de forma socialmente mais justa para minimizar esta
tragédia. Aliás, as previsões do Banco de Portugal são preocupantes, sobretudo
para 2014.
É certo que em Portugal a chamada economia
paralela corresponde a cerca de 25% do PIB e muita gente e muitas actividades
estão envolvidas neste universo, de qualquer forma o potencial impacto social
destes números é, no mínimo, inquietante.
Afirmo com frequência que uma das consequências
menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo do desemprego, em
particular o de longa duração e de situações em que o tempo obriga a perder o
subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas. Sabemos que se verifica
oportunismo e fraude no acesso aos apoios sociais, mas a esmagadora maioria das
pessoas sentem a sua dignidade ameaçada quando está em causa a sobrevivência a
que só se acede pela “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma
questão de dignidade roubada.
A questão da pobreza é um terreno que se presta a
discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida. Mas também
não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de três
milhões de portugueses conhecem, exigem uma recentração de prioridades e
políticas que não se vislumbra. Na verdade, apesar da retórica oficial de que
existe justiça social nas medidas de austeridade, o que é verdadeiramente
insustentável é que as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão a
aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza. Mais
preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
A pobreza e a exclusão deveriam envergonhar-nos a
todos, a começar por quem lidera, representam o maior falhanço das sociedades
actuais.
Sem comentários:
Enviar um comentário