E eis que, inesperada no tempo e sem anúncio no
briefing do Secretário de Estado Lomba, ajudante do Ministro da Propaganda,
Poiares Maduro, chegou a remodelação, sai Vítor Gaspar, um génio que acertou
pouco, mas ... errar é humano, embora não corrigir seja insensato, por assim
dizer e sem carregar nos termos, entra a ajudante de Vítor Gaspar, a
Secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, que tem andado na berlinda devido às ligações
actuais e antigas a produtos tóxicos, os tais "swaps". Tais ligações
não auguram nada de bom.
Não me
quero intrometer no novo ofício de politólogo, os profissionais que estudam e
analisam a ciência política, mas na qualidade de cidadão minimamente atento ao
que nos rodeia, umas notas sobre um fenómeno que me parece interessante e
curioso, as remodelações nos elencos governativos.
Sempre que os governos, independentemente da sua
natureza partidária, começam a sofrer alguma contestação, natural, devida, por
um lado às opções políticas assumidas e por outro lado à incessante luta entre
quem tem o poder e quem a ele aspira, surgem referências e cenários sobre
remodelação, numa espécie de relação mágica, se as caras mudarem a realidade
também muda. Sempre assim foi, sempre assim será, se não se alterarem os
modelos e culturas de organização política, sendo que os efeitos são
habitualmente pouco consistentes porque o acessório raramente substitui o
essencial.
Os tempos que temos vivido não fogem a este
processo. Nos últimos meses têm sido insistentes as vozes, mesmo de entre os
partidos integrantes da coligação, que reclamam pela remodelação com a
curiosidade semântica de alguns lhe chamarem "refrescamento", o que
não deixa de ser interessante.
No entanto, creio que os últimos tempos nos
obrigam a pensar e a exigir mais do que uma remodelação, um refrescamento que aconteceu
agora. A questão de fundo não é a composição o Governo, é a mudança nas suas
políticas.
O Governo tem feito, todos o fazem, a defesa das
suas opções políticas, com a única alternativa possível e séria. A utilização
deste argumento, intimidatório, é velha, tem uma longa tradição, ou é assim ou
é o caos. Pretende criar e induzir o medo e a convicção de que não existe
qualquer outro rumo que não o por si traçado.
No início do seu mandato o Governo, dadas as
circunstâncias em que o país estava, encontrou um clima adequado para que as
suas políticas fossem entendidas como o único caminho. Muitos dos portugueses
interiorizaram a necessidade de sacrifícios e austeridade, numa perspectiva
transitória e que devolvesse o equilíbrio perdido. O que tem acontecido é
conhecido, têm vindo a ser produzidos sucessivos pacotes de austeridade e
sacrifício que resultam em desemprego, exclusão, recessão, cortes fortíssimos
em áreas chave com saúde, educação e segurança social e com uma percepção cada
vez mais nítida e indesmentível de que são pacotes profundamente injustos,
desiguais, massacrando sobretudo rendimentos do trabalho ou de pensões e
reformas, o consumo, que penaliza os mais baixos rendimentos e deixando de fora
rendimentos muito altos de outra natureza, aceitando incompreensíveis e
sucessivas excepções aos sacrifícios e mantendo mordomias e despesa pública
inaceitáveis.
Neste quadro de sofrimento e descontentamento, ao
Governo não basta remodelar, refrescar caras e ideias, como lhe chamou Marques
Mendes, ou seja, outras caras, com outras palavras para realizar as mesmas
obras será o fim, ou melhor, o princípio do fim.
Existem alternativas, sabemos todos que existem
alternativas, que são exequíveis, que são respeitadoras dos compromissos
internacionais e da necessidade de equilíbrios orçamentais mas sobretudo, é
essa a questão essencial, respeitadoras da dignidade das pessoas.
Não acredito que o Governo, este Governo,
considere eventuais alternativas, o seu discurso e praxis não autorizam que se
pense em mudança significativa, pelo que uma "simples" remodelação, a
substituição do ministro pelo sua ajudante será, como já referi, o princípio do
fim, do Governo ou da nossa capacidade de aceitação do inaceitável.
Continuarão, muito provavelmente, as políticas
tóxicas, ou seja, retomando um velho enunciado político, trata-se da evolução na continuidade.
1 comentário:
Por outros termos:
Mudam-se as moscas mas os excrementos (políticas) são as mesmas.
Ou pensam que vai mudar alguma coisa?!!
Senhor Professor Morgado, por amor de algum Deus que hipotéticamente exista, não chame Ministro da Propaganda ao sr. Poiares Maduro, pode sair-lhe caro se alguém entra na história Germânica dos finais dos anos trinta até meados anos quarenta.
VIVA!
Enviar um comentário