segunda-feira, 1 de julho de 2013

EVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE

E eis que, inesperada no tempo e sem anúncio no briefing do Secretário de Estado Lomba, ajudante do Ministro da Propaganda, Poiares Maduro, chegou a remodelação, sai Vítor Gaspar, um génio que acertou pouco, mas ... errar é humano, embora não corrigir seja insensato, por assim dizer e sem carregar nos termos, entra a ajudante de Vítor Gaspar, a Secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque, que tem andado na berlinda devido às ligações actuais e antigas a produtos tóxicos, os tais "swaps". Tais ligações não auguram nada de bom.
 Não me quero intrometer no novo ofício de politólogo, os profissionais que estudam e analisam a ciência política, mas na qualidade de cidadão minimamente atento ao que nos rodeia, umas notas sobre um fenómeno que me parece interessante e curioso, as remodelações nos elencos governativos.
Sempre que os governos, independentemente da sua natureza partidária, começam a sofrer alguma contestação, natural, devida, por um lado às opções políticas assumidas e por outro lado à incessante luta entre quem tem o poder e quem a ele aspira, surgem referências e cenários sobre remodelação, numa espécie de relação mágica, se as caras mudarem a realidade também muda. Sempre assim foi, sempre assim será, se não se alterarem os modelos e culturas de organização política, sendo que os efeitos são habitualmente pouco consistentes porque o acessório raramente substitui o essencial.
Os tempos que temos vivido não fogem a este processo. Nos últimos meses têm sido insistentes as vozes, mesmo de entre os partidos integrantes da coligação, que reclamam pela remodelação com a curiosidade semântica de alguns lhe chamarem "refrescamento", o que não deixa de ser interessante.
No entanto, creio que os últimos tempos nos obrigam a pensar e a exigir mais do que uma remodelação, um refrescamento que aconteceu agora. A questão de fundo não é a composição o Governo, é a mudança nas suas políticas.
O Governo tem feito, todos o fazem, a defesa das suas opções políticas, com a única alternativa possível e séria. A utilização deste argumento, intimidatório, é velha, tem uma longa tradição, ou é assim ou é o caos. Pretende criar e induzir o medo e a convicção de que não existe qualquer outro rumo que não o por si traçado.
No início do seu mandato o Governo, dadas as circunstâncias em que o país estava, encontrou um clima adequado para que as suas políticas fossem entendidas como o único caminho. Muitos dos portugueses interiorizaram a necessidade de sacrifícios e austeridade, numa perspectiva transitória e que devolvesse o equilíbrio perdido. O que tem acontecido é conhecido, têm vindo a ser produzidos sucessivos pacotes de austeridade e sacrifício que resultam em desemprego, exclusão, recessão, cortes fortíssimos em áreas chave com saúde, educação e segurança social e com uma percepção cada vez mais nítida e indesmentível de que são pacotes profundamente injustos, desiguais, massacrando sobretudo rendimentos do trabalho ou de pensões e reformas, o consumo, que penaliza os mais baixos rendimentos e deixando de fora rendimentos muito altos de outra natureza, aceitando incompreensíveis e sucessivas excepções aos sacrifícios e mantendo mordomias e despesa pública inaceitáveis.
Neste quadro de sofrimento e descontentamento, ao Governo não basta remodelar, refrescar caras e ideias, como lhe chamou Marques Mendes, ou seja, outras caras, com outras palavras para realizar as mesmas obras será o fim, ou melhor, o princípio do fim.
Existem alternativas, sabemos todos que existem alternativas, que são exequíveis, que são respeitadoras dos compromissos internacionais e da necessidade de equilíbrios orçamentais mas sobretudo, é essa a questão essencial, respeitadoras da dignidade das pessoas.
Não acredito que o Governo, este Governo, considere eventuais alternativas, o seu discurso e praxis não autorizam que se pense em mudança significativa, pelo que uma "simples" remodelação, a substituição do ministro pelo sua ajudante será, como já referi, o princípio do fim, do Governo ou da nossa capacidade de aceitação do inaceitável.
Continuarão, muito provavelmente, as políticas tóxicas, ou seja, retomando um velho enunciado político, trata-se da evolução na continuidade.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

Por outros termos:
Mudam-se as moscas mas os excrementos (políticas) são as mesmas.

Ou pensam que vai mudar alguma coisa?!!

Senhor Professor Morgado, por amor de algum Deus que hipotéticamente exista, não chame Ministro da Propaganda ao sr. Poiares Maduro, pode sair-lhe caro se alguém entra na história Germânica dos finais dos anos trinta até meados anos quarenta.


VIVA!