sábado, 13 de julho de 2013

OBRAS PÚBLICAS E DISCRETOS INTERESSES

Realizou-se hoje mais uma iniciativa de protesto contra a intenção de construção do terminal de contentores na Trafaria, devido às consequências de natureza diferenciada que tal empreendimento terá na zona e nas envolventes, dada a necessidade de acessos ferroviários e rodoviários.
Quem tem vivido em Portugal nas últimas décadas, sabe com segurança que as grandes obras públicas realizadas ou idealizadas sempre tiveram, têm, por base muitos outros critérios que não o da racionalização dos custos ou justificação pela necessidade.
A torneira aberta pela integração na União Europeia e um fluxo de dinheiro que parecia não ter fim permitiu alimentar realizações e sonhos que serviram interesses da mais variada natureza a começar pelos jogos políticos, os interesses dos grupos económicos amigos dos sucessivos governos, os narcisismos megalómanos de muitos dirigentes autárquicos, etc. É certo que de todo este desvario alguma herança ficou ao nível de infra-estruturas e equipamentos para as populações mas muito, mesmo muito, se desperdiçou em elefantes brancos e inutilidades cuja manutenção actual nos sai caríssima. Mesmos "sonhos" que nunca viram a luz do dia como o TGV ou o novo Aeroporto de Lisboa são excelentes exemplos da deriva incompetente e irresponsável na gestão dos interesses públicos. Duas obras que não aconteceram mas que já absorveram muitos milhões de euros sem que exista ou se preveja a identificação de alguma responsabilidade imputada a quem sucessivamente foi alimentando estes processos.
Serve esta introdução para me referir ao custo astronómico, já divulgado, previsto para a construção de um ramal ferroviário entre a Trafaria e o Pragal, que a proposta de passar o terminal de contentores de Lisboa para a margem sul, na Trafaria, tornaria necessário. Este custo é bastante superior ao custo por km do TGV.
Sou suspeito, vivo na margem certa do Tejo, a sul, e não simpatizo de todo com a destruição da Trafaria e da zona envolvente de arriba para a construção do terminal de contentores e do ramal ferroviário para além de outros equipamentos ou vias.
A questão que me preocupa é que o que venha a ser decidido esteja bem para lá da análise racional dos custos, das necessidades e do impacto para ambiente e pessoas. Talvez seja de tentar perceber o que vai acontecer aos terrenos libertados pelos contentores em Lisboa, quem ganha com as obras e com a deslocação para a Trafaria deste terminal.
As autarquias da margem sul, sobretudo a de Almada, já se manifestaram abertamente contra o projecto, tal como o fizeram hoje, mas seria de ouvir as populações através, por exemplo, de um referendo. No entanto, propositadamente ou não, continua a faltar muita informação.
O custo previsto por quilómetro da construção da ferrovia que já é conhecido, sendo importante é apenas um dado, nem sequer o mais importante.
Aguardemos por novos desenvolvimentos.

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