domingo, 28 de julho de 2013

OBRAS PÚBLICAS E DISCRETOS INTERESSES

O Governo anunciou em tempos a ideia de passar para a Trafaria o terminal de contentores que está na margem norte. A intenção desencadeou variadíssimas reacções genericamente contra, incluindo a das autarquias e habitantes da margem sul que não "querem" tanto "desenvolvimento" que a instalação do terminal na Trafaria certamente trará.
Com toda a oportunidade, um estudo da AT Kearney encomendado pelo Governo, entregue a AR, refere, sem surpresa e correspondendo à encomenda, o esgotamento do actual porto de Lisboa entre 2023 e 2026 e garante, claro, a viabilidade económica da operação pelo que defende a ideia do Governo alertando para a necessidade de investimento em estruturas rodoviárias. A sério? Que surpresa extraordinária!
Há poucas semanas realizou-se mais uma iniciativa de protesto contra a intenção de construção do terminal de contentores na Trafaria, devido às consequências de natureza diferenciada que tal empreendimento terá na zona e nas envolventes, dada a necessidade de acessos ferroviários e rodoviários. O Relatório encomendado pelo Governo é, pois, de uma enorme oportunidade.
Quem tem vivido em Portugal nas últimas décadas, sabe com segurança que as grandes obras públicas realizadas ou idealizadas sempre tiveram, têm, por base muitos outros critérios que não o da racionalização dos custos ou justificação pela necessidade.
A torneira aberta pela integração na União Europeia e um fluxo de dinheiro que parecia não ter fim permitiu alimentar realizações e sonhos que serviram interesses da mais variada natureza a começar pelos jogos políticos, os interesses dos grupos económicos amigos dos sucessivos governos, os narcisismos megalómanos de muitos dirigentes autárquicos, etc. É certo que de todo este desvario alguma herança ficou ao nível de infra-estruturas e equipamentos para as populações mas muito, mesmo muito, se desperdiçou em elefantes brancos e inutilidades cuja manutenção actual nos sai caríssima. Mesmos "sonhos" que nunca viram a luz do dia como o TGV ou o novo Aeroporto de Lisboa são excelentes exemplos da deriva incompetente e irresponsável na gestão dos interesses públicos. Duas obras que não aconteceram mas que já absorveram muitos milhões de euros sem que exista ou se preveja a identificação de alguma responsabilidade imputada a quem sucessivamente foi alimentando estes processos. O estudo sobre a transferência do terminal de contentores inscreve-se no mesmo trajecto.
Importa ainda não esquecer que muitos especialistas sustentam que para Portugal, dadas as características, proximidade e qualidade do Porto de Sines, um excelente terminal de contentores a sul seria suficiente complementado pelo porto de Leixões a norte.
Aliás, também já foi divulgado o custo astronómico, já divulgado, previsto para a construção de um ramal ferroviário entre a Trafaria e o Pragal, que a proposta de passar o terminal de contentores de Lisboa para a margem sul, na Trafaria, tornaria necessário. Este custo é bastante superior ao custo por km do TGV.
Sou suspeito, vivo na margem certa do Tejo, a sul, e não simpatizo de todo com a destruição da Trafaria e da zona envolvente de arriba para a construção do terminal de contentores e do ramal ferroviário para além de outros equipamentos ou vias reconhecidamente imprescindíveis.
A questão que me preocupa é que o que venha a ser decidido esteja bem para lá da análise racional dos custos, das necessidades e do impacto para ambiente e pessoas. Talvez seja de tentar perceber o que vai acontecer aos terrenos libertados pelos contentores em Lisboa, quem ganha com as obras e com a deslocação para a Trafaria deste terminal.
As autarquias da margem sul, sobretudo a de Almada, já se manifestaram abertamente contra o projecto, tal como o fizeram hoje, mas seria de ouvir as populações através, por exemplo, de um referendo. No entanto, propositadamente ou não, continua a faltar muita informação.
O custo previsto por quilómetro da construção da ferrovia que já é conhecido, sendo importante é apenas um dado, nem sequer o mais importante.

1 comentário:

não sei quem sou... disse...

Eu sei que a democracia directa é inviável devido ao elevado número de população. Mas também sei que esta democracia que na prática é PARTIDOCRACIA MEDULAR, que vitima a nossa dignidade, revolta e avilta as nossas vidas, NÃO ME SERVE!

Antes prefiro ser governado por regime antiliberalista, pois conheço-lhes bem o rosto, são inimigos em menor número e por isso mais fáceis de combater.

Na actual PARTIDOCRACIA MEDULAR os inimigos é os iguais a mim (muitos milhões) que não têm o discernimento suficiente para na altura do voto pôr a escumalha política fora da política.

Esta verborreia toda para dizer que estou inteiramente de acordo com seu texto com excepção de parte do TÍTULO.

CONHECIDOS INTERESSES e não DISCRETOS


VIVA!