No últimos tempos têm sido frequentes as notícias
respeitantes a prémios ou fundos atribuídos a investigadores portugueses de
diferentes instituições. Hoje soube-se que a Fundação do actor Michael J. Fox
atribuiu 250 mil dólares a uma equipa da Universidade de Coimbra que desenvolve
trabalho sobre o papel do sistema imunitário na doença de Parkinson.
Estas sucessivas referências, que muitas vezes
passam quase despercebidas no meio da bruma envolvente destes dias de chumbo,
atestam o esforço e a competência da comunidade científica portuguesas e o
trabalho realizado no âmbito do ensino superior e investigação traduzido pelo reconhecimento
internacional das nossas instituições.
No entanto, também nesta matéria o futuro próximo
não é animador. Há pouco, o Professor Sobrinho Simões, reconhecido investigador
e director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular do Porto, uma das
mais prestigiadas instituições portuguesas de investigação, alertava hoje para
os efeitos graves dos cortes cegos no financiamento da investigação. Diz
Sobrinho Simões que “a frágil formação superior dos políticos” e os cortes
financeiros impostos pela troika são um “cocktail perigoso” para o
universo da investigação em Portugal.
Relembro ainda que em Outubro de 2012 um grupo
muito significativo de bolseiros de investigação, cerca de 3200, assinou uma
carta aberta dirigida ao Ministro da Educação e da Ciência contestando o novo
Estatuto do Bolseiro que, do seu ponto de vista, alimenta a precariedade e
diminui a qualidade das condições gerais para o seu trabalho de produção
científica.
Conheço pessoalmente muitos casos de jovens (e
não só), altamente qualificados, que têm como expectativa de vida saltitar pela
sobrevivência de projecto em projecto, gerindo os atrasos e as alterações,
desempenhando muitas vezes tarefas que não deveriam ser suas, ou, como acontece
com muitos, integrarem o contingente dos 100 000 jovens que anualmente “fogem”
do país correndo atrás de um futuro que aqui lhes é negado.
Curiosamente esta posição dos bolseiros e as
recorrentes preocupações com a asfixia do ensino superior também coincidiu uma
tomada de posição de 42 personalidades com Prémios Nobel, alertando as
autoridades da Comissão Europeia para os riscos do desinvestimento na ciência.
Está estudada e reconhecida de há muito a
associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o
desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção
de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de
vida e condições de saúde, por exemplo.
Como em quase tudo é uma questão de escolhas e
prioridades de quem lidera. O problema como referia o Professor Sobrinho Simões
é que "os nossos políticos têm um problema ... alguns não se apercebem do
valor do ensino superior e da investigação".
Vamos ser optimistas.
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