segunda-feira, 15 de julho de 2013

CIÊNCIA EM PORTUGUÊS

No últimos tempos têm sido frequentes as notícias respeitantes a prémios ou fundos atribuídos a investigadores portugueses de diferentes instituições. Hoje soube-se que a Fundação do actor Michael J. Fox atribuiu 250 mil dólares a uma equipa da Universidade de Coimbra que desenvolve trabalho sobre o papel do sistema imunitário na doença de Parkinson.
Estas sucessivas referências, que muitas vezes passam quase despercebidas no meio da bruma envolvente destes dias de chumbo, atestam o esforço e a competência da comunidade científica portuguesas e o trabalho realizado no âmbito do ensino superior e investigação traduzido pelo reconhecimento internacional das nossas instituições.
No entanto, também nesta matéria o futuro próximo não é animador. Há pouco, o Professor Sobrinho Simões, reconhecido investigador e director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular do Porto, uma das mais prestigiadas instituições portuguesas de investigação, alertava hoje para os efeitos graves dos cortes cegos no financiamento da investigação. Diz Sobrinho Simões que “a frágil formação superior dos políticos” e os cortes financeiros impostos pela troika são um “cocktail perigoso” para  o universo da investigação em Portugal.
Relembro ainda que em Outubro de 2012 um grupo muito significativo de bolseiros de investigação, cerca de 3200, assinou uma carta aberta dirigida ao Ministro da Educação e da Ciência contestando o novo Estatuto do Bolseiro que, do seu ponto de vista, alimenta a precariedade e diminui a qualidade das condições gerais para o seu trabalho de produção científica.
Conheço pessoalmente muitos casos de jovens (e não só), altamente qualificados, que têm como expectativa de vida saltitar pela sobrevivência de projecto em projecto, gerindo os atrasos e as alterações, desempenhando muitas vezes tarefas que não deveriam ser suas, ou, como acontece com muitos, integrarem o contingente dos 100 000 jovens que anualmente “fogem” do país correndo atrás de um futuro que aqui lhes é negado.
Curiosamente esta posição dos bolseiros e as recorrentes preocupações com a asfixia do ensino superior também coincidiu uma tomada de posição de 42 personalidades com Prémios Nobel, alertando as autoridades da Comissão Europeia para os riscos do desinvestimento na ciência.
Está estudada e reconhecida de há muito a associação fortíssima entre o investimento em educação e investigação e o desenvolvimento das comunidades, seja por via directa, qualificação e produção de conhecimento, seja por via indirecta, condições económicas, qualidade de vida e condições de saúde, por exemplo.
Como em quase tudo é uma questão de escolhas e prioridades de quem lidera. O problema como referia o Professor Sobrinho Simões é que "os nossos políticos têm um problema ... alguns não se apercebem do valor do ensino superior e da investigação".
Vamos ser optimistas. 

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