O MEC divulgou hoje alguns dados
relativos ao Programa PERA - Programa Escolar de Reforço Alimentar através do
qual milhares de crianças acederam ao pequeno-almoço providenciado nas
escolas.
Apesar dos impactos positivos, os
níveis de aproveitamento das crianças envolvidas são mais baixos que a média,
21% reprovaram. No entanto, cerca de 50% das 10816 crianças melhoraram o seu
rendimento escolar e em 37% não se registaram melhorias. No que respeita ao
comportamento, 42% das crianças melhoraram-no face a 49% que não evidenciaram
alterações significativas.
Estes dados não podem deixar de
ser lidos sem um sobressalto de indignação. Que raio de mundo e de vida
construímos onde isto cabe? Onde, sem demagogia, coexistem miúdos com fome e
gente com rendimentos e estilos de vida obscenos e revoltantes no excesso.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento
escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais
potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente
negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades
básicas.
É também reconhecido que as
crianças constituem um dos grupos mais vulneráveis e que sofrem maiores
consequências das dificuldades sentidas nas suas comunidades e famílias.
Em Maio, um Relatório,
"Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que
25% das crianças do terão o seu desempenho escolar em risco devido à
malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e
qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com
carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas
internacionais referentes a assimetrias, insucesso e incapacidade de
proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é
“normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da
história que já contei várias vezes e que me aconteceu há uns anos em
Inhambane, Moçambique, quando ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o
Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, me dizer que se mandasse traria um camião de
batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que
aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o
Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão
continuar pobres.
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